Os ventos não sopram de feição para o Governo. Todos os dias parece surgirem mais más notícias. O preço do petróleo alivia durante três dias? Incendeia-se um poço no Kuwait e logo sobe para o nível mais alto. A Alemanha e a França aguentam-se?
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Anuncia-se que a Espanha está próxima da recessão. A oferta da EDP Renováveis é um sucesso e pode animar a Bolsa? Ocorrem umas transacções estranhas que deprimem a cotação. Recupera no dia a seguir? Saem os dados do emprego na economia americana que atiram com as bolsas para as catacumbas. Já para não falar na cotação do euro ou nos preços dos cereais. O que pode um governo de um pequeno país fazer quando a envolvente tem esta evolução? Conjunturalmente, muito pouco. Estruturalmente, ter tomado as medidas para dar à economia mais capacidade de resistência e adaptação, resiliência como hoje sói dizer-se. Se o rumo tiver sido esse, o rumo certo, não há que alterar as políticas de fundo. E há que resistir à tentação da demagogia e do populismo de curto prazo. O que demora muito tempo a construir desmorona-se num dia. Ceder a um grupo de interesses provoca um efeito dominó. A economia portuguesa está mais bem preparada para enfrentar esta crise do que há três ou quatro anos? Certamente. O suficiente? Não creio. Podia estar melhor? Certamente. Sobretudo se se tivesse sabido, ou podido, aliviar o presença do Estado na economia e na sociedade, na despesa, na influência e na dependência. Mesmo que estivesse melhor, não escaparia imune à forte desaceleração dos países com quem nos relacionamos economicamente. Escamotear este facto é pouco sério. Ignorá-lo é próprio de quem vive noutro mundo. Por todas estas razões e pelas que decorrem de o processo de consolidação orçamental ainda não estar terminado, a margem de manobra é bastante reduzida. Mas não nula. Exige-se rigor. Clareza nas prioridades estabelecidas. Explicações precisas e transparentes. Um mundo de diferença face às dificuldades que o Governo demonstra em lidar com a situação criada. Em certa medida, o Governo está a pagar o preço da sua tibieza e hesitação na reforma do Estado. Ao não conseguir chegar tão longe quanto o anunciado, sujeita-se a todo o tipo de contestações que continuam a ter o habitual denominador comum: pedir ao Governo que lhes resolva o seu problema. Para os portugueses, o Governo é mais omnipotente do que Deus. Se nem um nem Outro os atendem, pagam-lhe na mesma moeda: votam contra ou abandonam a prática religiosa. Por acção ou omissão, todos têm razão de queixa. E todos querem que o Governo os atenda. Sobretudo, se já tiver ajudado alguém. Que auxilie os outros e não a nós é inaceitável. Ou há moralidade, ou comem todos, diz-se! Somos coerentes na inveja. A nossa desdita é tanto mais intolerável quanto mais os outros forem bem sucedidos. Exemplifica-o a atitude do Benfica face ao Porto. Sorte a nossa: nunca ganharão nada enquanto continuarem a pensar e actuar assim! No meio disto tudo, valha-nos a Selecção. Festeja--se cada vitória como se fosse a definitiva. Tira-se a carripana da garagem, vai-se para a festa, apita-se. Muito. Sempre se adquire prática para a próxima manifestação contra o aumento dos combustíveis...