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Quase a terminar o seu “Homenagem à Catalunha”, George Orwell escreve que, num caso como o da guerra da Espanha, “ninguém é, ou pode ser, completamente verdadeiro. É difícil ter a certeza acerca seja do que for, a não ser daquilo que vimos com os nossos próprios olhos, e, consciente ou inconscientemente, toda a gente toma partido ao escrever.” Orwell alistara-se na milícia da “frente popular”, no Quartel Lenine, em Barcelona, à semelhança de milhares de estrangeiros atraídos pelo “romantismo” da “República”, demasiado cedo controlada a partir de Moscovo por Estaline e respectivos esbirros. Orwell acabou por ter de fugir das perseguições dos “republicanos” aos próprios “republicanos” que não eram estalinistas, regressando pela França a Inglaterra. Os “falangistas” de Francisco Franco venceram a guerra civil, embalados pela Alemanha nazi, então em ascensão, e fundamental para os bombardeamentos aéreos, como o ocorrido sobre Guernica. Franco distenderia progressivamente o regime, assegurando uma transição democrática, pacífica, a partir de meados dos anos 70 do século passado. As últimas eleições ditaram a vitória do Partido Popular, do sr. Núñez Feijóo, a quem o rei, naturalmente, incumbiu de tentar a investidura. Feijóo propôs ao sr. Sánchez - que desde as ditas eleições se prepara para imitar Costa em 2015 - a não inviabilização parlamentar de um Governo PP por dois anos, coisa que o referido cavalheiro evidentemente recusou. O PSOE, neste século, tornou-se, na prática, o herdeiro directo do “espírito republicano” dos idos anos 30. Possui a mesma pulsão totalitária, bem vincada, agora, no plano social, cultural e comportamental. Não hesita igualmente em constituir uma “frente” de secretaria, com antigos terroristas e nacionalistas espúrios antimonarquia, para se manter no poder. O incidente do beijo não é por acaso que foi, e está a ser, explorado à náusea pelo regime PSOE, com o próprio Sánchez à cabeça, pelas associações “me too” de juízas espanholas e pelas instituições desportivas dependentes do Governo, sem que alguém siga o conselho de Orwell. Rubiales, por feitio e por ter sido desastrado, constitui um pretexto fenomenal no momento em que se discute a formação de um novo Governo. Está a ser destruído junto da opinião pública, e pela que se publica, a reboque, também, desta “narrativa” que o PSOE e aliados querem manter a partir da Moncloa. Sánchez, que politicamente não faz outra coisa senão envergonhar a salubridade da democracia liberal espanhola, transformando-a numa vanguarda “wokista” primitiva, neofascista, atreveu-se a criticar Rubiales dizendo, sem se rir, que, e cito, “não se pode representar Espanha com comportamentos e discursos que envergonham”. Um traste.
O autor escreve segundo a antiga ortografia