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Ficamos outra vez na mesma. Num estilo "agarra-me que senão vou-me a eles...!" o Ecofin mandou dizer que vai ler o postal que António Costa enviou e mais tarde, na sombra de um dia de verão, lá dirá alguma coisa.
Este tema das sanções arrisca-se a ser o verdadeiro silly theme de um tempo de veraneio que começou meteorologicamente muito tarde e humanamente muito triste.
Em primeiro lugar, o assunto parece que vai terminar sem percebermos bem como é que começou. O que é que está afinal a ser julgado? Um desvio no período de 2013-2015 ou este e mais uma análise especulativa sobre o eventual não cumprimento das metas para 2016?
Note-se que podemos estar de acordo sobre os perigos que antevemos para a execução orçamental mas daí a usar estimativas e projeções para fundamentar o castigo, vai muito. Vai a distância exata de quem sabe que não faz qualquer sentido penalizar um Estado-membro que engoliu de olhos fechados o remédio que intransigentemente nos foi imposto.
Em segundo lugar, temos o processo. Quantas mais vezes vai ser preciso anunciar em forma de rufo de tambor as possíveis, misteriosas e monásticas punições que, rasgando as vestes, os burocratas europeus nos querem impingir? Roça a demência ou mesmo a indecência este filme em câmara lenta que nos humilha e nos enfraquece.
Em terceiro lugar, quem manda, afinal? O "Processo" ou o "Castelo de Kafka" são, a este respeito, leituras obrigatórias.
Mas antes ainda, temos obrigação de ler o que escreveu Maria Luís Albuquerque em maio e de ouvir o que disse Pedro Passos Coelho há uns dias.
Maria Luís, dirigindo-se a Dombrovskis pergunta-lhe explicitamente se acha justo que sejam impostas sanções a um país que tudo fez para cumprir e que só não acertou nas contas porque os senhores do Eurostat resolveram alterar as metodologias de cálculo do PIB, forçando assim, a meio do percurso, um ponto de partida mais baixo e uma meta insuperável.
Passos Coelho volta a pegar no tema quando pergunta porque é que António Costa alegadamente aceitou o valor que lhe apresentaram sem discussão.
Politiquices e meias-verdades à parte, tenho a certeza que a mencionada alteração metodológica existiu e influenciou os nossos resultados.
Ou seja, quem decide se cumprimos ou não as regras não é o Ecofin nem o Conselho Europeu. É o Eurostat. E isto passa sem clareza nem recorte. Fica-nos o Brexit que, apesar do tudo, sempre nos deixa respirar melhor.
* ANALISTA FINANCEIRA