As recentes e injustificáveis agressões a médicos não resultam apenas da falta de resposta do Serviço Nacional de Saúde nem da insatisfação do serviço prestado. São também fruto de uma sensação de impunidade que tem crescido em Portugal e que se alastra a outros setores.
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Portanto, não basta recorrer ao Índice Global de Paz para dizer que Portugal é o terceiro país mais seguro do Mundo. É verdade que, se compararmos com outros, não nos podemos queixar. Mas o terceiro país mais seguro do Mundo não é só feito de portugueses pacíficos, que não arrancam semáforos nem incendeiam caixotes do lixo quando fazem uma greve ou uma manifestação. O terceiro país mais seguro do Mundo é também aquele onde alunos agridem professores e pouco ou nada faz. É aquele que aceita que um cidadão ataque polícias, médicos, enfermeiros, funcionários públicos e pouco ou nada faz. Um país não pode ser só considerado seguro porque os turistas estão seguros.
Esta semana, um jovem espancou um médico no Centro de Saúde de Moscavide por este se recusar a passar-lhe uma baixa. Antes, uma médica teve de ser submetida a uma pequena cirurgia a um olho depois de ter sido agredida por uma utente do Hospital de São Bernardo, em Setúbal. Hoje, noticiamos o caso de outros dois profissionais de saúde agredidos com uma mesa e uma cadeira. E, como estes, há outros casos a acontecer todos os dias. Em 2018, foram registadas 953 notificações de violência para com médicos e enfermeiros do SNS. Nos primeiros seis meses do ano passado, a Direção-Geral da Saúde deu conta de 600 incidentes. Em junho, o Governo anunciou um projeto-piloto na Amadora para fazer frente ao problema. Até hoje, não se conhecem os resultados.
Não é de todo justificável que quem está a salvar as nossas vidas não veja a sua devidamente protegida e, como dizia Eugénio de Andrade, "As palavras estão gastas". É preciso mais.
*Diretor-adjunto