Em março de 2020, Portugal confirmava os primeiros casos de covid-19 em território nacional. O Mundo fechava-se em casa e os sistemas de saúde de cada país reforçavam meios para atacar uma doença, até então, desconhecida. Passados três anos, os sistemas públicos de saúde, que tanta prioridade tiveram, afundam-se numa gravíssima crise: estão subfinanciados e subdimensionados. Ou seja, incapazes de responder a uma população doente e cada vez mais envelhecida.
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Numa carta aberta publicada em janeiro no magazine 1843 (pertencente ao jornal "The Economist"), um médico de Edimburgo assegurava que "a razão de ser da medicina é aliviar, senão mesmo curar, o sofrimento", mas atualmente o National Health Service, pela incapacidade de resposta, "mais não faz do que agravar as doenças". Com greves históricas promovidas pelos profissionais da saúde, o Reino Unido tem hoje o seu sistema de saúde à beira da rutura.
A falta de financiamento público da saúde é um problema comum a várias geografias. Nos países da OCDE, as despesas nesta área estão a aumentar de forma significativa e já representam 10 por cento do PIB. É uma percentagem significativa que muitos estados não conseguem cumprir. Uma das soluções poderia ser liberalizar completamente os cuidados de saúde. Não é esse o modelo que se coaduna com um Estado social, que procura proteger todos os cidadãos, independentemente da sua capacidade financeira para pagar os cuidados de que necessitam. Se é verdade que grande parte de nós conseguirá fazer face a problemas correntes da dia a dia, quando as doenças são graves (pensemos, por exemplo, numa doença oncológica prolongada), tudo se altera. E aí a resposta do SNS é mesmo imperiosa. Nos casos mais críticos, os hospitais públicos, por norma, revelam-se exemplares na sua capacidade de resposta. E isso deveria priorizá-los em qualquer decisão orçamental. Não é isso que se passa. E a insatisfação é grande. Em Portugal e em vários outros países.
Numa edição dedicada a este tema, a revista "Courrier International" fala em várias soluções de recurso para colmatar a falta de profissionais nos hospitais públicos: as regiões do Sul de Itália contrataram agora 500 médicos cubanos, algumas regiões francesas criaram este ano pontes aéreas semanais dedicadas exclusivamente ao transporte de profissionais de saúde para algumas cidades... São situações de recurso que não resolvem o problema de fundo que é tornar os serviços nacionais de saúde mais robustos. No mês passado, 250 mil pessoas gritaram nas ruas de Madrid que o SNS era vital. Os políticos não deveriam desconsiderar esse alerta. Nele estão contidos a promoção da saúde e a prevenção e tratamento da doença de todos nós.
*Prof. associada com agregação da UMinho