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Quem é que não bebe um copinho? Mesmo que só de vez em quando. É um ritual social. Bem, na verdade, nunca é só um copinho, são vários. Em muitos casos, ao almoço e ao jantar. Mas e agora, quem é que leva o carro? Ora, é aqui que o desastre acontece. Milhares de feridos, centenas de mortos. Uma tragédia anual a que não chamamos tragédia, useira nas razões, vezeira nas consequências. Construímos das mais modernas autoestradas do Mundo, temos os mais avançados sistemas de cobrança de portagens. Mas continuamos a perecer que nem tordos nas faixas de tanto progresso.
Os dados revelados há dias pelo JN são assustadores: em 2017, três em cada dez automobilistas que morreram na estrada acusaram uma taxa de alcoolemia superior ao permitido por lei. E, destes, 70 % tinham uma taxa-crime. Estavam bêbados. Ocupamos, aliás, o distinto lugar de campeões europeus no consumo diário de álcool. Campanha após campanha, a prevenção rodoviária tem-se revelado incapaz de suster esta mistura explosiva entre álcool, irresponsabilidade e motores. Apesar de tudo, "Se conduzir não beba" foi um slogan que ficou. Que ajudou a criar uma consciência social. Mas os hábitos evoluíram. Não falamos do consumo moderado às refeições, mas da ingestão ocasional de grandes quantidades, em particular pelos mais novos. A mensagem tem, por isso, de ser reforçada. E a mão da Polícia mais musculada (veja-se o quão natural se tornou o uso do cinto de segurança a partir do momento em que as multas começaram a chegar a casa). No ano passado, o INEM socorreu 1270 jovens em coma alcoólico. "A bebedeira passa, o resto não", é a mensagem da atual campanha-choque dirigida aos novos consumidores. Por mim, adaptava a velha máxima e reforçava-lhe a carga dramática. Expondo histórias reais de gente que perdeu filhos, pais, mães. Exibindo os estropiados a quem amputaram os sonhos. E chamava-lhe "Se conduzir, não mate". Porque está visto que a bebedeira não vai passar.
* SUBDIRETOR