<p>O maestro do Ministério Público confidenciou a quem o quis ler que não lhe chega a batuta para afinar a orquestra. Fosse ela constituída por plebeus e talvez um grito mais estridente - um megafone, se necessário - bastasse para harmonizar a melodia. Mas, como o próprio já confessou, os músicos são condes, marqueses e donos de outros títulos nobiliárquicos. Gente dada a ousadias artísticas e, suspeita-se, geneticamente indomável.</p>
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Não sabendo nós se o queixume público foi precedido de reprimenda interna - porventura inconsequente - mais perplexos ficamos. É que o maestro não falou antes da estreia. Pelo contrário: para mal dos nossos pecados, o espectáculo arrasta-se penosamente há demasiado tempo. Desferindo golpes sobre golpes na credibilidade do Ministério Público, que dá de si próprio a imagem de campo de batalha permanente, sem voz de comando capaz de o pacificar. Um perigo para os cidadãos que é suposto servir.
Por que diabo Pinto Monteiro se queixa agora - precisamente agora, que um processo com o mediatismo do "Freeport" se desenrola - de que tem poderes equivalentes à rainha de Inglaterra (leia-se: poucos ou nenhuns)?
Se não foram reduzidos, se os seus antecessores tinham exactamente o mesmo quadro de funcionamento, só pode concluir-se que se esqueceu de ler a alínea relativa às suas competências, quando foi indigitado para procurador-geral da República. E, isso é seguro, também nunca tomou a iniciativa de propor ao Poder Político, ao qual agora pede socorro, alterações legislativas susceptíveis de dar cabedais à função. Podia fazê-lo, porque o seu estatuto o permite, mas até hoje limitou-se a pedidos de "clarificação", que, de tão vagos, caíram em saco roto.
Por omissão - ou pelo menos inacção - Pinto Monteiro tornou-se parte de um problema chamado Ministério Público. Com o desabafo público, deixou, em definitivo, de ter condições para ajudar à solução. Magistrado de prestígio, bem pode dispensar as luzes da ribalta que incidem sobre o cargo de procurador-geral. Se sente que não tem poderes para pôr a casa em ordem, abdique e regresse aos tribunais.