Se o senhor Joseph Blatter gostasse do futebol já há muito tinha admitido introduzir neste desporto o serviço das novas tecnologias. Mas o senhor Blatter gosta, sobretudo, da poderosa máquina de fazer dinheiro que tem na mão e do poder que esta lhe dá até sobre os estados soberanos. E estes dois factores têm sido o grande obstáculo a admitir, tal como no ténis, no râguebi, no atletismo e noutras modalidades desportivas o precioso auxiliar que as novas tecnologias poderiam trazer à defesa de uma maior "verdade desportiva". Provavelmente, só agora depois de alguns erros crassos neste Mundial 2010, admite pensar no assunto, porque Inglaterra e EUA têm força económica para afligir Blatter.
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Não me passa pela cabeça que a introdução das novas tecnologias vá acabar com uma das características que alimentam um dos fetiches do futebol: a margem de discussão passional que projecta entre os seus adeptos. Nem sequer poderão diminuir ou anular a quantidade dos erros humanos ou das interpretações subjectivas com que os "julgadores das regras" deste desporto (árbitros e analistas) são confrontados. Decidir ou interpretar que a falta foi intencional ou não, se o "palavrão" dito foi ofensivo ou não, não há tecnologias que resolvam. Aí acabavam imensos programas de televisão, essa outra máquina que, sem ela, o mundo do futebol não daria ao sr. Blatter tanto dinheiro e poder. Por outro lado, há o enorme campo de manobra com que jogam os árbitros, elementos preciosos para a gerência que a FIFA faz dos colossos que garantem receitas, como a história dos campeonatos tanto têm provado. Mas erros factuais como a mão que garantiu a classificação à França, o golo anulado aos EUA, o escandaloso golo, em fora-de-jogo, da Argentina, o golo anulado à Inglaterra, o golo de Fabiano, precedido (duas vezes) de mão, ou o próprio golo, também em fora-de-jogo, da Espanha a Portugal, com a utilização das novas tecnologias, não seriam remorsos a pesar nas desculpas esfarrapadas do sr. Blatter.
Quanto à decepção provocada pela derrota da nossa selecção não tem culpa o sr. Blatter. Entre as agora oito melhores equipas só mereceríamos ficar no lugar do Paraguai. Isto se Queiroz não fosse tão timorato e tivesse tentado ganhar o jogo com o Brasil. Mas sobre a nossa selecção e Queiroz só agora começou o campeonato. Tudo somado, a selecção não conseguiu aliviar-nos, por mais alguns dias, da grande frustração de sermos o país que estamos a ser.