Se, um primeiro-ministro, num dia de inverno
Professores em fúria, polícias sem rumo, ministros sem estratégia, secretários de estado efémeros, indemnizações sem moral, greves e chantagens. Há gritaria na República. Dir-se-ia que toda a Oposição se juntou e contratou um guionista para escrever um filme de terror à maneira dos blockbusters de Hollywood.
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Mas, atenção, esta é uma receita clássica. Nos primeiros 30 minutos de qualquer longa-metragem o único objetivo é convencer os espectadores que a tragédia é tão generalizada que não há solução possível para o desastre.
Capricham-se os efeitos especiais de última geração - ondas de 50 metros engolem o Terreiro do Paço, os incêndios multiplicam-se, espalhando o pânico por todo o lado, e os portugueses, aflitos e desorientados, atrapalham-se uns aos outros como baratas tontas, "bandarrando" a queda próxima do Carmo e da Trindade. Mas é só fumaça. A boa notícia é que é nesta altura do argumento que acontece o primeiro volte-face com o aparecimento de um novo herói ou uma ação inesperada.
Neste momento, como no livro do Italo Calvino, este cronista sente os olhos do primeiro-ministro chegando a esta mesma linha do texto - esta mesmo em que agora estamos - e consegue ver a próxima cena com uma clarividência bíblica.
Para surpresa de todos, na reunião geral, na cidade fria, o líder lê esta prosa em voz alta e, em vez de lamentar a falta do tal herói, despede o argumentista.
Pede a todos os presentes que trabalhem mais e percebam melhor o que hoje acontece no Mundo, dizendo a todos que as oportunidades que existem para Portugal são únicas, irrepetíveis e não podemos falhar cometendo os mesmos erros de sempre.
Até porque na maior parte das vezes, para tudo correr bem, e se tirar razão a quem diz sempre mal, e só preciso trabalhar mais e ficar calado.
*Presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos