Segurança: há quem prefira não ver
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A propósito da questão da segurança e da criminalidade no Porto, fui ontem chamado a atenção para um artigo do jornal “Público”, cujo título antecipava o conteúdo: a “perceção de insegurança não acompanha os números da criminalidade”. O texto superava o prognóstico e detinha-se numa sequência de interpretações teóricas sobre o fenómeno, que basicamente reduzem à insignificância os casos graves e recorrentes a que temos assistido. Droga, assaltos, agressões violentas, são tudo “construções sociais” ou resultam de uma hipersensibilidade às notícias que nos chegam.
Dando corpo à velha tese de “não deixar que os factos atrapalhem uma boa história”, o artigo em causa chega mesmo a normalizar os números crescentes da criminalidade. Com uma explicação verdadeiramente notável: não são os delitos que aumentam, antes o número de casos reportados. Afinal, os crimes já existiam, a Polícia é que não sabia deles.
Felizmente, nem toda a gente vive nesta bolha sociológica e há quem identifique os sinais, senão de alarme, pelo menos de legítima preocupação com os dados e as notícias que nos chegam. É o caso da ministra da Administração Interna, com quem a Associação Comercial do Porto se reuniu na passada semana, podendo testemunhar, não apenas uma convergência na análise, como um conhecimento muito específico sobre as causas e os determinantes que estão a potenciar o recrudescimento do crime e da marginalidade.
Margarida Blasco partilhou das nossas preocupações quanto aos números do RASI 2023 - que, entre outros resultados, demonstram um crescimento da criminalidade violenta no Porto quatro vezes superior a Lisboa - e, sobretudo, mostrou-se empenhada em prover os meios e as iniciativas necessárias ao combate a este fenómeno. Entre as diversas soluções equacionadas, algumas vão ao encontro do que temos defendido, designadamente o reforço do policiamento de rua e de proximidade.
Na falta de ações concretas, por enquanto, regista-se a coragem no diagnóstico e a vontade em atacar de frente o problema. Ao contrário de algumas sumidades, nem todos estão disponíveis para enfiar a cabeça na areia.