Oposição responsável e construtiva. Abrangente, a definição cabe nos propósitos do actual secretário-geral do Partido Socialista (PS). Tem é um problema: é tudo e simultaneamente nada perante o quadro de dificuldades provocado por um passado recente do qual é uma impossibilidade António José Seguro descartar-se.
Corpo do artigo
Ontem, na Comissão Nacional, o líder do PS teve o condão de confessar a sua discordância com alguns dos pontos do memorando negociado e assinado com a troika pelo seu antecessor, José Sócrates. A tal perspectiva, levada à conta de desabafo, António José Seguro juntou a pitada de responsabilidade necessária: vai honrar os compromissos. Pois. Não só não tem outro remédio como está metido num colete de forças também constituído pela dificuldade adicional de ginasticar o seu posicionamento face à marcação cerrada a que o sujeita a herança recebida - incluindo-se nela um grupo de pesos pesados fiéis ao socratismo.
Obrigado o Partido Socialista à travessia de um deserto, pelo menos enquanto não se apagar da memória colectiva o modo como Portugal chegou à actual situação de penúria e de troca do estatuto de independência pelo de simples protectorado, a António José Seguro restam poucos caminhos para resistir. Sem renegar o passado não lhe é fácil, por um lado, recentrar e recredibilizar o partido e, por outro, apresentar propostas alternativas ao presente modelo de governação limitada pelo exterior.
Ao ter de estabelecer prioridades, fica quase impossível a António José Seguro marcar a agenda política. São curtas as meras cambiantes de graduação desta ou daquela decisão do Governo face aos conteúdos do memorando para, a curto prazo, o Partido Socialista voltar a ser hipótese de Poder. E assim sendo é também complexa a vivência da actual equipa dirigente entre dois pólos: demarcar-se de muito do cardápio da austeridade imposta ao país ou adoptar uma postura cooperante, incluindo a abertura do leque de muito do apoio social indispensável ao sucesso das decisões difíceis - e fica por esclarecer se a coligação governamental está genuinamente interessada...
O papel reservado nesta fase a António José Seguro não é, pois, nada fácil. Tendo cometido o erro inicial de não ter adoptado uma posição aglutinadora das várias hostes socialistas, o que serviu de motivo reactivo à sua oposição interna, ao cabo e ao resto ao secretário-geral do Partido Socialista resta um caminho de... paciência.
Para tentar ultrapassar o estatuto provisório que lhe é atribuído por uma parte dos socialistas, o líder do PS tem duas apostas a fazer: nos danos provocados pelas políticas de austeridade ao apoio popular aos partidos da coligação governamental e na reorientação do Partido Socialista.
Se a primeira das alíneas é de sucesso previsível, abrindo campo para a hipótese de uma sedimentação de Seguro na base de um bom resultado eleitoral autárquico, já a reprogramação do partido é mais problemática. O Laboratório de Ideias anunciado para breve pode ser um bom contributo. O facto de haver socratistas aos tiros contra alguns dos nomes adiantados para tal estrutura é um sintoma de que o secretário-geral do PS pode estar a caminhar no trilho certo. Pode ser mesmo o começo do desfazer da quadratura do círculo em que está metido...