Há quem passe uma vida inteira à procura dos chamados cinco minutos de fama que garantem a felicidade na Terra, mesmo que tudo o resto corra mal. Pedro Nuno Santos, o deputado socialista que ameaçou pôr a tremer as robustas pernas dos banqueiros alemães, nunca terá pensado, com toda a certeza, que encontraria a desejada fórmula do sucesso em Castelo de Paiva. A sua fervorosa e fragorosa intervenção num comício partidário valeu-lhe não apenas largas horas de palco nos meios de comunicação social portugueses, mas também citações em meios mundialmente conhecidos, como o jornal norte-americano "Wall Street Journal", o inglês "Daily Telegraph" e mesmo na página electrónica da estação de televisão CNBC, dos EUA. Convenhamos: é obra!
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Pedro merece tanta glória? Claro que merece! Vindo de onde vem (foi líder da JS), Pedro, rapaz com idade para ter sangue na guelra para dar e vender, tem bem gravada nos neurónios a frase "Não pagamos!", uma e outra vez repetida na luta contra as propinas. De modo que não espanta que a ela recorra para assustar os alemães. A mim, confesso, só me barulhou o facto de não se ter dirigido directamente à senhora Merkel cantarolando aquela outra pérola do protesto estudantil que reza assim: "Mulher gorda, a mim não me convém..."
A este lado lúdico e de "forte imagética", como disse, embaraçado, o líder parlamentar do PS, pode somar-se um lado mais sério, bem revelador da situação em que se encontra o PS e o seu titubeante líder.
As palavras de Pedro Nuno Santos são a montra de todos quantos, no Partido Socialista, estão ansiosos, desejosos, desesperados mesmo por praticar um estilo de oposição ao Governo que mostre mais vezes os dentes caninos. Nessa montra estão os que entendem que as falinhas mansas de António José Seguro condenarão o PS a anos e anos de degredo, a anos e anos sem cheirar o poder. Pelos sinais que se avolumam, a dita montra está cada vez mais composta...
Ora, numa altura decisiva para o futuro do país como esta é, não faltarão motivos para que os choques entre o PS sossegado de Seguro e o PS arrojado (digamos assim) de Pedro Nuno Santos e outros que tais se ergam até ao ponto de não retorno - isto é, até ao ponto em que a liderança de Seguro seja abertamente posta em causa. Os partidos são assim: sabem que só joga quem tem poder - e o de Seguro começa a esboroar-se a uma velocidade alucinante.
Sucede que o problema do PS é, nas actuais circunstâncias, um sério problema para o país. Não é que as divergências entre os dois principais partidos do arco da governação devam desaparecer. Bem pelo contrário. O problema está na fraqueza do PS. O país precisa de uma Oposição forte e responsável, hoje mais do que nunca. Forte e capaz de consensualizar posições em torno do essencial, esquecendo o acessório. Parafraseando Pedro Nuno Santos, é preciso que o PS e António José Seguro se ponham finos!