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Eram seis meses pagos a 100%. O mínimo do que é considerado saudável pela OMS como período de amamentação exclusiva. Mas PSD e CDS (os famosos amigos das famílias e dos fetos ainda por nascer) votaram contra a votação da iniciativa legislativa proposta por um grupo de cidadãos. Caiu assim por terra a votação da lei que consagraria o direito a seis meses de licença parental pagos na íntegra. Que, ficando sem efeito nesta legislativa, terá de começar do zero na próxima, o que implica refazer um processo que demorou quase dez anos. Tudo começou em 2016, quando um grupo de mulheres iniciou a recolha de vinte mil assinaturas para levar a propostaaté ao Parlamento. O que acabaria por acontecer apenas em2024, quando passou (com os votos contra da AD), ficando a expectativa de que fosse legislada com brevidade. Após vários adiamentos (propositados) e já com a queda do Governo no horizonte, a AD decide adiar para uma próxima legislatura o que não estava interessada em concretizar nesta, com o maior partido da oposição a ajudar ao bloqueio, sendo cúmplice na procrastinação e dando, agora, a abstenção necessária para o chumbo da iniciativa. E apesar da pressão dos partidos da esquerda para que a iniciativa legislativa fosse votada, caduca assim aquilo que tantos anos de trabalho e mobilização popular custou.
A ministra da Segurança Social demonstrou preocupação com a medida porque considera que esta pode agravar as desigualdades de género no mercado laboral. De facto, no contexto português e apesar de ser ilegal, muitas mulheres perdem o seu emprego durante a gravidez ou do aleitamento.
É certo também que grande parte das desigualdades de oportunidades na ascensão nas carreiras é justificada pela sobrecarga das mulheres com o cuidado dos dependentes e com o que assumem a mais de trabalho doméstico.
A competição com os pares é difícil, quando reina a ideia de que as mães darão sempre menos às empresas e que é melhor contratar e promover homens.
Pois eu tenho uma sugestão para a senhora ministra e para os legisladores que serão eleitos nas próximas eleições: licença parental simultânea e obrigatória (paga) para pais e mães durante seis meses. É que, além de diminuir as desigualdades e desvantagens competitivas no mercado de trabalho entre mães e pais, muito faria pela divisão dos deveres parentais desde o dia um, pelo vínculo entre pais e bebés e pela exaustão solitária das mães durante o puerpério.
Cuidar de um recém-nascido é o mais desgastante trabalho que existe, sobretudo amamentando em exclusivo (já que isso demanda mais do nosso corpo do que muitas horas de corrida). Ora, fazê-lo a dois seria não só mais saudável para as mães (reduzindo depressões pós-parto), como garantiria maiores taxas de sucesso no aleitamento materno até aos seis meses.