Este foi o fim de semana de todas, ou quase todas, as decisões. E digo quase, porque falta ainda a apresentação e votação da ou das moções de censura que oficializarão o óbito do atual Governo. Para trás, fica a via-sacra que PS, BE, PCP e PEV percorreram até fecharem um acordo de governação, incluindo a sua validação nos respetivos órgãos partidários.
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A partir de terça feira, ao que tudo indica, o problema que veio do presidente da República para o Parlamento será devolvido a Belém, mas desta feita com um post-it a recomendar uma decisão "nos termos da Constituição". Gerada uma nova maioria parlamentar, dadas as garantias relativamente à estabilidade, ao tratado orçamental e aos restantes compromissos internacionais a que Portugal está obrigado, demonstradas as fragilidades e também as indisponibilidades para um Governo de gestão, restará a Cavaco Silva chamar António Costa e encarregá-lo de formar Governo.
Ao futuro primeiro-ministro está reservado um desafio formidável. A situação do país é aquela que se conhece, longe da folga que nos foi transmitida na última campanha eleitoral pela coligação PàF, e só um caminho diferente, menos fidelizado à deriva ideológica da fatalidade do empobrecimento, poderá gerar um novo ciclo de crescimento. Só com mais economia, mais emprego e mais rendimento será possível obter as receitas fiscais necessárias ao equilíbrio orçamental e à redução da dívida. Esse é o desafio.
Noutra perspetiva, o Governo socialista que, em breve, poderá tomar posse enfrenta um outro desafio de curto prazo, para o qual deve estar preparado: a ausência de estado de graça. O Portugal dos interesses, de cujo gigantismo se suspeita há muito, saiu da toca e desatou a desenhar limites ideológicos, numa tentativa semissalazarista de se substituir ao eleitorado, para o que contou com a conveniente amplificação por parte dos média. Isto significa que, ao contrário do que é habitual, o próximo Governo não beneficiará de um período de tolerância, que se convencionou designar por estado de graça.
Aprende-se em gestão que os cenários catastróficos resultam do alinhamento de ameaças com fragilidades. Perante a ameaça que representa a prometida supressão do estado de graça, interessa então a António Costa evitar a maior das fragilidades, que seria um elenco governamental fraco. Por outras palavras, mais do que nunca, este tem de ser um Governo de excelência, com pessoas com currículo e coragem. E, já agora, tem de mostrar nos primeiros 100 dias que veio para mudar o jogo.