Sem o jornalismo, o país só vê versões parciais da greve
Sigo a greve geral pelos média noticiosos e o retrato é radicalmente diferente conforme as fontes de informação. O Governo assegura que "a esmagadora maioria do país está a trabalhar", os sindicatos garantem que a paralisação registou "uma adesão histórica". É sempre assim. Quem está no poder minimiza o que aconteceu, quem se manifesta avoluma resultados. Mais uma vez, percebemos a importância dos jornalistas para mostrarem os dois lados de uma realidade que deve ser submetida ao princípio do contraditório, um exercício que as redes sociais desconhecem.
Em dia de greve geral, quando Governo e sindicatos disputam números e narrativas, o cidadão comum vê-se subitamente enredado num labirinto de afirmações que só não atingem uma natureza absoluta porque os jornalistas fazem perguntas, verificam dados, escutam quem está no terreno e expõem diferentes versões e ângulos do acontecimento. Os profissionais da informação noticiosa assumem-se, assim, como travão à vertigem de discursos cuidadosamente preparados em modo unilateral. São eles que perguntam o que ninguém quer responder, confirmam o que alguns preferem ver como factos consumados, desmontam estatísticas, colocando-as no devido contexto. Sem essa mediação, ficaríamos submersos num mundo de versões onde cada bolha digital vai criando a sua própria verdade.
Nestas alturas, percebemos quão perigoso seria um país que deixasse enfraquecer o jornalismo. Precisamos muito de informação fiável, verificada, contraditada. E esse trabalho, tantas vezes desvalorizado, apenas existe porque há repórteres que calcorreiam o terreno, observando o que se passa, à procura de diferentes leituras dos factos.
Claro que pelas redes sociais também fluiu grande parte do que aconteceu na greve geral e muito daquilo que o Governo interpretou a partir do que viu. Através de um feed, lá foi escorrendo informação rápida, cheia de emoção e, por isso, contagiante. Todavia, acima desse caudal incontrolado de textos, destaca-se o jornalismo que é uma espécie de antídoto contra um ruído que muitas vezes passa ao lado do essencial.
Seguindo o site do JN e de outros meios de Comunicação Social, percebo que esta greve fez mexer muitos interlocutores. Agitou uma parte do país que trabalha e desinquietou o Executivo e cada uma das partes agitou o copo meio cheio ou meio vazio. Ora, é precisamente nessas discordâncias que assenta a base de uma democracia. Num dia de paralisação nacional, tão relevante como perceber quem tem razão, importa garantir que todos temos acesso às razões de uns e de outros. Todavia, isso só acontece se protegermos quem nos dá a visão integral do copo, ou seja, os jornalistas.

