Perguntem a alguém como está a economia e, com elevada probabilidade, obterão como resposta qualquer coisa como "mal, muito mal". Se insistirem, ouvirão um "pior do que nunca". Por regiões, arrisco-me a dizer que é no Norte onde este "efeito crise" é mais evidente. Sem supresas. A dependência de uma indústria produtora de bens sujeitos à concorrência internacional, muita dela assente numa utilização intensiva do factor trabalho, a baixa qualificação de trabalhadores e empresários, são tudo ingredientes que prenunciam dificuldades. Quando as barreiras protectoras se abateram e países com mão-de-obra muito mais barata entraram no mercado, muitas empresas não aguentaram. Quase todas abanaram mas a maioria resistiu. Aos poucos foram-se recompondo, demonstrando uma grande capacidade de resistência e adaptação. Os números comprovam o que se acabou de dizer: desde 2001, o Norte foi a região onde o desemprego mais aumentou mas, nos tempos mais recentes, ao contrário da percepção da rua, tinha vindo a baixar.
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Eis senão quando nos cai em cima a actual crise económica. A estagnação da economia mundial e a recessão que já afecta a Alemanha e a Espanha, os nossos dois principais mercados, auguram tempos difíceis. Nestas alturas é costume aparecerem soluções miríficas, anunciadas por profetas que vêm numa multiplicidade de novas indústrias a solução. A saúde, as indústrias criativas, a biotecnologia, as energias renováveis, as TIC. Não posso estar mais de acordo. A outra face da crise é sempre a oportunidade e a resignação não nos conduz a sítio nenhum.
Há, porém, um pormenor. Todas aquelas actividades somadas não dão emprego aos desempregados que resultariam da eventual falência de três ou quatro das grandes empresas dos sectores ditos tradicionais. Mesmo admitindo que tivessem as qualificações requeridas para serem absorvidos. Podemos sonhar com uma região muito diferente da actual. Mas sonhar acordados só pode conduzir ao desastre. O que significa que é preciso preparar políticas específicas para as pessoas concretas que serão despedidas na sequência da redução ou cessação de actividade das empresas existentes. Dessas políticas não faz parte o prolongamento artificial da vida das empresas em dificuldades. Tentá-lo redunda, apenas, na distorção da concorrência e no contágio de outras mais capazes de sobreviver. E, a prazo, no agravamento da situação.
Nalguns casos, será possível requalificar as pessoas e dar-lhes novas oportunidades. Noutros, poderão ser úteis em actividades de proximidade, desde a segurança nas escolas até ao acompanhamento de doentes e idosos, passando pelo ordenamento das povoações. Estimule-se a mobilidade. Assegure-se a todos um rendimento mínimo, mas privilegie-se e recompense-se o trabalho em detrimento da mera assistência no desemprego, salvaguardando a auto-estima que um emprego significa. Feitas as contas, a sociedade fica a ganhar. Como fica, se olhar sem preconceitos para os sectores ditos tradicionais que têm demonstrado uma resiliência invulgar, num contexto muito desfavorável, continuando a ser o ganha-pão de uma economia que, em quase tudo o resto, se revela incapaz de gerar saldos comerciais positivos. Por todas estas razões vale a pena ler com atenção o estudo da CCDRN sobre o emprego e desemprego no Norte.