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A abolição dos exames no final do primeiro ciclo merece o aplauso inequívoco de muitos pais e professores. Promover uma cultura de exigência não significa criar sobre crianças de 9 ou 10 anos uma pressão desnecessária e, pior, orientar todo um ano de trabalho para a preparação daquelas duas ou três horas de avaliação que ganham uma dimensão exagerada.
O problema não é a ansiedade que se possa estar a criar entre os mais novos. A questão é de fundo e parte de uma visão da escola focada em rankings e notas, mais do que em inclusão e diversidade. Um sistema que sobrevaloriza as metas e as médias, mas deixa pouca margem de manobra para atividades extraprograma igualmente importantes para abrir horizontes e estimular a curiosidade.
Concordar com a medida não é, no entanto, sinónimo de considerar correto que o diploma aprovado na Assembleia da República tenha efeitos já este ano. Professores e alunos têm um calendário de partida, quando arrancam as aulas em setembro. Têm um planeamento, objetivos fixados e momentos de avaliação calendarizados. O que se aprovou foi uma mudança de regras a meio do jogo e costumamos ensinar às crianças que isso não se faz.
Os ciclos eleitorais têm o efeito natural de introduzir mudanças e inversão de políticas. É, aliás, isso que esperamos quando votamos e ditamos diferentes configurações parlamentares. Mas essa inversão cria por vezes, quando excessiva ou descuidada no timing, instabilidade desnecessária. A educação é um dos setores-chave em que os avanços e recuos tornam difícil fixar um rumo e afiná-lo.
Da maioria de Esquerda no Parlamento espera-se novidade. Os sinais já começaram a ser dados, com a aprovação de diplomas que têm uma grande marca ideológica e efeitos concretos na vida das pessoas. Mas essa capacidade de ser alternativa terá de ser sempre orientada para quem realmente interessa nas políticas: as pessoas.
Seja no Parlamento ou no Governo, o desafio dos partidos de Esquerda é agir rapidamente nos dossiês em que há urgência, ponderando o que pode e, por vezes, deve esperar. E essa ponderação nem sempre é fácil, mas é importante que a mudança se sinta sem abusos nem excessiva instabilidade. Governar não é riscar tudo e começar do zero, descartando o que está feito. É saber corrigir apenas o que deve ser corrigido, depois de definir prioridades e atender a urgências. Sem pressas que sejam inimigas dos melhores resultados.
, SUBDIRETORA