Nos últimos dias a Comunicação Social fez-se eco da divulgação pelo Eurostat (Gabinete de Estatísticas da União Europeia) dos dados referentes ao produto interno bruto por pessoa dos 27 países que integram a UE. Estes números são sempre olhados com muita atenção, porque o PIB per capita ainda continua a ser a referência mais fiável para se avaliar o crescimento de cada um dos estados-membros.
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Como habitualmente, os valores apresentados, para serem comparáveis, apresentam-se corrigidos das diferenças dos níveis de preços entre os diferentes países, possibilitando uma avaliação dos índices de bem-estar de cada um mais próxima da realidade.
O grande objetivo traçado quando da nossa adesão às instituições europeias, era o de crescermos em cada ano mais do que em média cresciam os nossos parceiros, por forma a aproximarmos os nossos níveis de desenvolvimento do nível médio desses países. O caminho era o da convergência com a média europeia.
E durante alguns anos assim aconteceu. Para isso recebemos ajudas substanciais que nos permitiram crescer, criar emprego, desenvolvermo-nos. Com a entrada para a União dos países de Leste, com economias pouco desenvolvidas e taxas de crescimento muito débeis, Portugal subiu em termos relativos alguns degraus e passou a posicionar-se a meio da tabela. O país ultrapassou os 80% do produto europeu médio, por pessoa, (o país como um todo e não todas as regiões da país) o que motivou longas mas bem-sucedidas conversações do governo de então com a Comissão Europeia, quando da última negociação para alocação dos meios do Fundo de Coesão. Como é sabido, estes apoios destinam-se prioritariamente aos países com um PIB per capita inferior a 75% da média comunitária o que, desde logo, excluiria a Região de Lisboa, o Algarve e a Madeira. O que estava em causa era conseguir (e foi conseguido) um envelope financeiro que não penalizasse muito Portugal, face à exclusão regulamentar destas regiões.
Estávamos, aparentemente, no bom caminho. Embora mais lentamente do que o inicialmente esperado, estávamos a convergir com a média europeia.
Contudo, o que se passou nestes dois anos é por de mais evidente para não termos consciência de que o rumo para a convergência se alterou, mesmo tendo em consideração que a Europa como um todo está a passar por momentos difíceis.
Foi infelizmente sem surpresas que constatamos, com esta apresentação do Eurostat, que regredimos para os valores de 2004. Em vez de convergir com a média, divergimos. Face a 2010 andamos para trás 2,9 pontos percentuais. Mas mais. Os números agora apresentados referem-se ao ano de 2011, quando todos já sabemos que 2012 é também um ano em que iremos registar forte crescimento negativo. O fosso que nos separa da mítica média europeia será, no final deste ano, ainda maior. E o mesmo caminho de divergência se espera em 2013 e em 2014, segundo dados da União Europeia e do próprio Governo. A Grécia, com a hecatombe que tem sentido, tem ainda assim um PIB por pessoa na paridade dos poderes de compra, superior ao português.
Como se tudo isto não fosse já suficientemente mau para todos, acresce que nós, nortenhos, estamos ainda em pior situação.
Quando o Eurostat refere que Portugal regrediu para os valores de 2004, toma em consideração a média do produto interno bruto de todo o país e não, ainda, a sua especificação por regiões. Os dados provisórios a que para já tive acesso, estão em valor absoluto e não relativizados pelo poder de compra. Mas dá para perceber que o Norte ficou ainda mais na cauda dos níveis de desenvolvimento das regiões portuguesas, um pouco atrás da Região Centro e com um produto interno bruto que é quase metade do da Região de Lisboa. Também internamente o fosso que separa os níveis de desenvolvimento das diferentes regiões do país se agravou em vez de se atenuar.
Num momento tão difícil como aquele que o país vive, eu bem tenho procurado encontrar algo de positivo para transmitir aos que leem esta coluna. Mas não encontro, por mais que procure. E quero crer que a culpa não é minha.