Semana Santa precisa de alternativas e mais adesão local
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O turismo religioso constitui, em tempo de Páscoa, uma forte marca em vários pontos do Mundo. Em Portugal, é a Norte, particularmente em Braga, que as solenidades quaresmais têm o seu epicentro, mas muito daquilo que se prepara suspende-se frequentemente por causa da chuva. Falta gerar uma alternativa que se sobreponha às ameaças de S. Pedro e falta também construir uma marca que atraia os mais novos.
Quem na Semana Santa percorre as ruas de Sevilha fica surpreendido com a adesão da população local ao programa da Quaresma. Em Domingo de Ramos, jovens e mais velhos vestem-se a rigor para ver a procissão passar. Milhares de pessoas ocupam as ruas sevilhanas e nessa multidão reconhece-se muita gente local que se sobrepõe àqueles que chegam ali vindos de fora. Poder-se-á reconhecer que nem sempre a postura daqueles que veem passar os nazarenos, os penitentes que participam nas procissões vestindo túnicas, tapando todo o rosto com um chapéu em forma de cone e levando velas, é a mais respeitosa, mas sente-se neles o fervor da participação coletiva. A mesma participação se repete noutras cidades. Na terça-feira, ao início da noite, em pleno centro de Granada, havia uma fila de longos metros para entrar na Igreja de San Gil e Santa Ana para visitar o andor de Maria, com dezenas de velas acesas. Perto da meia-noite, o templo continuava com muitos crentes, muitos deles jovens, que rezavam o terço.
Talvez um olhar parcial defenda que as nossas solenidades, sobretudo aquelas que decorrem em Braga, são mais imponentes, mas em Espanha reconhecemos uma maior autenticidade. E isso tem um valor colossal, porque é nessa imaterialidade que se sente a força de celebrações que visam proclamar o triunfo da vida sobre a morte. Há, pois, muito a fazer. A vários níveis. O mais premente seria criar uma alternativa que assegurasse a realização de procissões em noites de chuva. Outro desafio seria mobilizar a população local para um programa que se robustecerá, se se revelar capaz de envolver mais pessoas, principalmente os mais novos.
Claro que já há muito trabalho desenvolvido. Uma das três principais procissões da Semana Santa bracarense (designada “Vós sereis o meu povo”) faz-se a partir de uma única paróquia e integra centenas de figurantes, entre eles, muitos jovens. É exemplar e mereceria ter réplicas. A Semana Santa não pode viver ao sabor da chuva, nem depender de quem vem de fora. Ou a tornamos nossa — com alternativas, com gente, com autenticidade — ou acabará por se esvaziar. E isso refletir-se-á fortemente no turismo.