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Presidente Marcelo e primeiro-ministro Costa coabitam há cerca de ano e meio, desde março de 2016. Entre o desconforto à Direita e o entusiasmo imprevisto à Esquerda, nem o presidente andou com o Governo ao colo nem o primeiro-ministro prescindiu da sua autonomia e da sua estratégia. Marcelo colaborou com o Governo e ajudou quando foi preciso ajudar - nomeadamente em termos europeus e chamando por exemplo Draghi e Juncker a conhecerem por dentro o "milagre" socialista da recuperação económica.
Até que vieram as tragédias de verão. O incêndio de Pedrógão, o insólito assalto de Tancos, a repetição dos incêndios em toda Região Centro e a constatação da mais absoluta incapacidade do Estado na elementar função de assegurar a segurança de pessoas e bens. É bem conhecido o entendimento que Marcelo Rebelo de Sousa faz do cargo que ocupa, como é bem conhecida a sua capacidade em matéria de comunicação. Perante tudo o que sucedeu nos últimos meses, o país precisava de quem lhe falasse claro. O presidente falou claro.
Entendo que a proximidade que os cidadãos sentem face ao presidente decorre mais da forma clara, substancial e objetiva como com eles comunica do que propriamente dos chamados "afetos". Percebe-se que algum PS e muito Bloco se contorçam com a popularidade quase "pop star" de Marcelo de Rebelo de Sousa. É compreensível para quem tem da política uma visão figurativa e encenada. O certo é que o presidente está muito perto dos portugueses porque, ao contrário do que sucede com a generalidade da classe política, fala a mesma linguagem que o cidadão comum.
O sentido do dever e a noção exata de medida e de proporção são notáveis em Marcelo. Daí que tenha estado junto das pessoas, com tempo e com disponibilidade, encarnando o verdadeiro espírito da caridade cristã. Não levou bens materiais, o que seria mais fácil. Levou o que poucos têm e poucos conseguem genuinamente oferecer: solidariedade e conforto para quem precisa.
O presidente interpreta os poderes constitucionais impostos ao cargo com enorme rigor e extrema exigência. Representa a República, garante o regular funcionamento das instituições e faz cumprir a Constituição. Naturalmente, define e prossegue prioridades. Naturalmente, marca uma agenda e aponta um caminho. Naturalmente, é tão exigente com o Governo e com a Oposição como é consigo próprio. E não. Marcelo não excede os poderes constitucionais. Leva-os ao limite, como nenhum outro presidente fez. Quem não gostar não tem outro remédio senão habituar-se: isto é que quer dizer semipresidencialismo.
*EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO