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Desde o dia da tomada de posse, Marcelo Rebelo de Sousa tem-se dedicado meticulosamente a demonstrar aos portugueses o quão mau presidente foi Cavaco Silva. Estou convencido de que o novo presidente da República tinha escrito no seu caderno pessoal o seguinte objetivo: "Fazer tudo ao contrário de Cavaco". E Marcelo está a trabalhar para isso. Cavaco era rígido, seco e tudo lhe parecia ser desconfortável. Marcelo é maleável, suave, caloroso e capaz de encaixar de forma perfeita em qualquer circunstância. Cavaco tinha medo de multidões. Marcelo beija cada um dos populares com carinho e afeição. Cavaco gostava de cultivar a parcimónia no uso da palavra. Achava que quando o presidente falava, a sua voz tinha de ter um peso inconfundível, um eco impossível de ignorar, uma força impossível de resistir. Já Marcelo opta pela estratégia contrária. Fala tanto, com tanta força e em tantas ocasiões por dia, que não se consegue ouvir mais nada nem mais ninguém.
Já se sabe o que aconteceu a Cavaco. Tanto quis gerir a voz, que acabou por sair mudo e calado. Esse problema não terá Marcelo, certamente, embora exista outro perigo. Quanto mais se fala, maior é o risco de se começar a não dizer nada.
JORNALISTA