Senhor professor Marcelo Rebelo de Sousa

Eleja por favor a defesa dos seus contemporâneos como o alvo principal da sua campanha.

Eles, às tantas, não poderão votar. Mas eu posso. E se não nos disser que vai tentar alterar o que abaixo lhe explico, não votarei, nem em si nem em ninguém.

Portugal tem 1 641 783 pessoas com mais de 70 anos (Pordata, 2019). Quase 20% da nossa população.

Segundo um estudo da Organização Mundial de Saúde de fevereiro de 2018, que envolveu 53 países, o nosso país está entre os cinco que pior trata os seus idosos, com 39% a serem vítimas de violência doméstica.

Em outubro deste ano o Censos Sénior realizado pela GNR assinalou 41 868 idosos a viverem sozinhos ou desacompanhados.

E, pelos vistos, existem mais de 3000 lares ilegais em Portugal. Ora se os legais nos dão as imagens que pudemos ver em Pisões, Cascais, imaginará como poderão ser os ilegais.

Não é, por isso, de estranhar que a covid-19 esteja simplesmente a dizimar os nossos pais e avós. Já na semana passada aqui dizia que, se tivéssemos conseguido proteger a nossa população mais idosa, só teríamos a registar menos de 800 óbitos contra os mais de 5000 que já contamos. Seria uma tragédia, ainda assim, mas não nos pesaria tão diretamente na consciência.

Nas últimas estatísticas publicadas pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças fica patente que em Portugal, ao arrepio do que acontece nos outros países, as medidas desenhadas não têm tido qualquer impacto na proteção dos mais velhos. Ou seja, as infeções baixam na generalidade, mas quem tem mais de 80 anos continua a morrer.

O que é normal porque nada tem sido decretado especificamente para resolver ou mitigar este problema. É como se a covid fosse um pelotão de fuzilamento virado para os mais de 80 e nós entretivéssemos a distribuir armaduras a todos os outros.

Nos seis ou sete estados de emergência que já declarou não ouvi nada sobre isto. Por favor não desperdice esta próxima e magna oportunidade.

Analista financeira