Na passada quinta-feira o Papa Francisco, no início da missa em S. Marta, pedia aos fiéis que rezassem pelas autoridades, porque elas têm de decidir, para o bem de todos, "medidas que não agradam ao povo".
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Para o Papa, os governantes sentem-se frequentemente sozinhos na tomada dessas decisões. Por isso, disse Francisco, "rezemos pelos nossos governantes que devem tomar a decisão sobre essas medidas: que se sintam acompanhados pela oração do povo".
Certamente ele não imaginava que nesse dia o Governo português iria tomar decisões tão difíceis como a de encerrar escolas. As 30 medidas do Governo tiveram o condão de fazer despertar, finalmente, o país para a ameaça que é a pandemia do coronavírus. Até aqui ainda grassava uma desconfiança quanto ao real perigo a que se estava exposto. Disso, aliás, foi exemplo a inconsciência das pessoas que aproveitaram o encerramento de algumas escolas, ou dos seus locais de trabalho, para irem à praia.
A Conferência Episcopal Portuguesa secundou as iniciativas governamentais com a suspensão de todas as missas com a participação do povo, bem como das atividades eclesiais que promovam o contacto próximo das pessoas. Decidiu privar as comunidades do "bem maior que é a Eucaristia" para evitar o "mal maior" de um contágio, como explicou à Agência Ecclesia D. José Cordeiro, presidente da Comissão Episcopal de Liturgia e Espiritualidade. Foi uma decisão corajosa que contribuiu para despertar consciências para a situação grave que o país atravessa.
Alertar para a gravidade, não deve, contudo, promover o pânico irracional, como se verificou na corrida aos supermercados. Aí as pessoas compraram muito mais do que precisavam. E fizeram com que outros não tivessem acesso ao que, verdadeiramente, necessitavam.
"O pânico como reação coletiva surge por infeção psíquica e não viral", escrevia no mês passado, no jornal "La Repubblica", Massimo Recalcati, psicanalista italiano, quando a epidemia do novo coronavírus começou a espalhar-se pelo norte de Itália. Para aquele psicanalista, o pânico é a outra face do "negacionismo, ou seja, a recusa obstinada em tomar consciência do caráter objetivo do perigo". Deve-se, então, "resistir à tentação do pânico, responder à ameaça com sentido de responsabilidade, não apenas considerando o horizonte da própria vida individual, mas percebendo que se participa conscientemente de uma ação civil coletiva que compromete toda a vida da nossa comunidade", concluía Massimo Recalcati.
Cavalgando e estimulando o pânico, alguns defendem medidas como o fecho das fronteiras com Espanha e o cerrar das entradas nos portos e aeroportos. Parecem mais preocupados em imporem a sua agenda soberanista e securitária do que em proteger as pessoas.
À hora em que escrevo este texto, não sei o que irão decidir os chefes dos governos de Portugal e de Espanha. Rezo para que as suas decisões políticas para evitar os contágios sejam iluminadas pela sensatez e para que as populações as aceitem e as cumpram, para bem de todos.
*Padre