<p>Na mensagem de fim de ano do sr. presidente da República, uma questão foi colocada em cima da mesa política que não pode nem deve passar em claro, pela sua inquestionável importância: apelou para "a necessidade de promover entendimentos da parte de quem governa, a que deve corresponder, por parte da Oposição, uma atitude de diálogo". Foi este o tema da mensagem e, se só isso tivesse dito, bastaria para termos de o ouvir. </p>
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O importante do que disse não foi o diagnóstico do estado do país, não foram as afirmações sobre a crise para a qual não se vê saída, nem a certeza de que a crise internacional veio agravar tudo e tornar mais visível o que já se sabia existir. Diagnósticos de crise estão todos os dias na Comunicação Social, que não pára de gastar palavras para o fazer. A crise é diariamente explicada, quantificada, relacionada com o passado e adivinhada no futuro, por economistas, ex-ministros das Finanças, comentadores, jornalistas e políticos, muitos políticos de todos os quadrantes e de todos os partidos do Parlamento. A crise é diariamente passada a números, números de desempregados, de empregos que se perdem ou se vão perder, passada a pente fino na visão do futuro negro de uma dívida externa que inviabiliza qualquer ideia de acreditar no futuro.
Não era, pois, possível que a mensagem do sr. presidente trouxesse algo de novo ao que todos os dias, em todos os telejornais e em todos os debates, nos entra em casa.
A novidade da mensagem presidencial foi a ideia dita em duas linhas que os partidos tinham de se entender para encontrar saída para a crise e para o país. Isto é, passou do diagnóstico ao tratamento. Como vamos sair disto? Convém recordar que estávamos em plena campanha eleitoral quando o sr. presidente foi à Alemanha e salientou o exemplo de coligação estável desse país onde nenhum partido tinha maioria absoluta sozinho.
Li com atenção essas palavras e que foram tristemente traduzidas para coligação-de-bloco-central-de-interesses. E, quando se tornou evidente que nenhum partido iria ter maioria absoluta e o país caminharia para o precipício óbvio, ninguém quis discutir uma solução estável para o país.
Agora, o presidente diz, na sua mensagem, que os partidos têm de se entender para sairmos da presente situação. Logo de seguida, assistimos aos partidos a desfilarem nas televisões, assegurando que estão disponíveis para se entenderem com o partido governamental de forma a termos o Orçamento do Estado aprovado. Acrescentavam, porém, "desde que o Governo aceite as nossas propostas"… No seguimento desta iniciativa, o Governo enviou uma carta aos outros partidos apelando ao diálogo. Mas é uma evidência que são falsas partidas e mesmo que a negociação apenas de um compromisso para aprovação do Orçamento se venha a verificar é pouca coisa e não se traduz na solução estável que necessitamos.
Para sairmos da situação na qual nos encontramos e não sendo possível uma coligação governamental que estabilize o país e nos dê confiança, temos no fundamental dois caminhos: ou vamos para eleições, o que não é saída, ou caminha-se para um acordo de incidência parlamentar, responsabilizando os partidos por uma solução estável e idónea.
A saída da crise é política, puramente política e exige coragem e bom senso. O eng.º José Sócrates não foi capaz de, a seguir às eleições, encontrar uma solução governativa estável e não conseguiu pôr os interesses do país acima de tudo. Não competia à Oposição fazê-lo. Foi o PS que ganhou as eleições. O eng.º José Sócrates navegou à vista, pensando que, se chegasse ao Parlamento ameaçando com a crise, algum partido aprovaria as suas decisões. Os partidos da Oposição, todos, entraram numa natural e evidente política e deriva populista, entregando-se diariamente nos ecrãs televisivos a exigir soluções para os reformados, os desempregados, os agricultores, os doentes, as empresas, enfim: para todos e mais alguns onde possam vislumbrar um potencial voto. Para sairmos desta situação precisamos de sentá-los à mesa. Mas sentá-los não a todos. O plural, sentar "os partidos", não leva a lado nenhum como não levou quando o eng.º Sócrates fez um convite de diálogo a todos os partidos a seguir às eleições ou quando agora manda escrever cartas.
Com o eng.º Guterres, o país entrou no desvario de gastar o que tinha e o que não tinha, para sustentar um governo minoritário mais populista e irresponsável do que a Oposição toda junta. Agora estamos exactamente na mesma.
A nossa única esperança é que o sr. presidente, em nome da saída da crise política e económica, inspire o eng.º Sócrates (pois não o pode obrigar) a negociar com um partido uma maioria que estabilize o país. Com coragem, com transparência (nada por baixo da mesa, nem queijos limianos, nem deputados dissidentes de outros partidos, nem…), com frontalidade precisamos de um acordo de governação de incidência parlamentar.
O país exige estabilidade e verdade. Quer uma solução política clara, transparente e urgente. Se assim não for, nem Manuela Ferreira Leite aguentará mais tempo à frente do PSD.