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Quando temos o privilégio de planear cidades, mais do que desenhar lugares de estacionamento é ter lugares para sentar. Porque o banco é lugar de paragem, de descanso e encontro.
Mas nem sempre as cidades do Mundo têm sido um porto de abrigo para todos os cidadãos. Recentemente, tenho percebido que também começam a não ser para aqueles cidadãos indesejados ou sem abrigo. Um dia destes, cheguei ao centro de uma pequena cidade, de morfologia interessante e com alguns edifícios de arquitetura do Estado Novo muito bonitos, e os meus olhos poisaram imediatamente sobre o vermelho a descascar de um banco velho, na praça principal. Certamente já não vê um pincel de tinta há décadas. Ao fundo, um idoso, de corpo inclinado, olhava para o seu telemóvel à procura de algo que lhe ocupasse o tempo, sentado num resto de banco já sem costas, que poisava sobre o chão de pedras irregulares.
Paro de respiração cortada. Que sítio feio num lugar com tanto potencial. Arregaço as mangas, pego numa lapiseira e, sobre uma folha de papel, começo a riscar sem parar. Quando desenho as ruas e as praças, o lugar que deveria ter o metro quadrado mais caro do mundo, porque sendo público, é de todos, tem de ter as mínimas condições da dignidade humana, para as vivências do dia-a-dia. Desenhar é um exercício de enorme responsabilidade profissional e coletiva. As cidades devem ser confortáveis, seguras, inclusivas e bonitas. E o banco da rua pode simplesmente refletir a saúde da cidade. Uma cidade que não senta, porque não tem bancos, ou tem bancos sem costas, ou sem braços, retira a liberdade de alguns viverem o lugar. E essa não será uma cidade à escala humana.