Aflige-me que tenhamos dúvidas sobre a nossa razão, que estejamos a capitular ao deixar que a nossa tolerância seja abusada, que tenhamos tanta dificuldade em compreender a guerra civil islâmica
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Enquanto os franceses disputam com os italianos o futuro do petróleo, e no dia em que a Amnistia Internacional acusou os combatentes do Conselho Nacional de Transição da Líbia de cometerem crimes de guerra, o seu líder e primeiro--ministro interino, o senhor Jalil, que foi ministro de Kadafi, proclamou perante milhares de manifestantes que a base da futura legislação do seu país será a sharia Islâmica.
Entretanto, no Egipto "libertado", a Embaixada de Israel foi ocupada e parcialmente destruída perante a complacência das forças de segurança, enquanto os acordos de paz vão sendo violados na península do Sinai e o Hamas vai recebendo um novo fôlego através da sua fronteira.
O presidente Obama, a NATO e a União Europeia dizem-se felizes com o desenrolar dos acontecimentos. Acreditam, ou querem acreditar, que o que sucede na rua árabe é um movimento democrático, e esperam, pacientemente, pelo fim do regime sírio de Assad, num país onde não ousam intervir.
Por outro lado, no Iraque o Governo é mais próximo de Teerão do que de Washington; no Paquistão, o regime continua com a sua política dúplice, enquanto permite que a ajuda humanitária dos europeus seja expropriada por grupos fundamentalistas e distribuída, depois, à população que assim é enganada quanto à sua origem.
Enquanto se multiplicam os erros de cálculo no Médio Oriente, na Europa, e depois de Oslo, o multiculturalismo conhece um novo fôlego. Aquilo que vinha sendo questionado passou a ser tolerado. Em Inglaterra, o 10.º aniversário do 11 de Setembro foi celebrado por islamitas que, debaixo da protecção da Polícia e diante da Embaixada Americana, queimaram uma bandeira dos EUA, entoando cânticos celebrando o assassinato em massa, e proclamando que este marcara o fim da democracia.
A opinião pública vai sendo iludida pelos políticos e pelos média. Para isso contribuem jornalistas que se sentem à vontade para fazer qualquer pergunta incómoda a um político da nossa praça, mas que se submetem à ditadura dos costumes islâmicos, e adoptam uma postura reverencial face ao obscurantismo totalitário dos extremistas. Ainda há dias assisti, com espanto, a uma entrevista de Márcia Rodrigues ao presidente iraniano Ahmadinedjad - o tal que defende que o holocausto é uma invenção judaica e que tem um pacífico programa nuclear para obliterar Israel - em que a nossa excelente jornalista aparecia envolta num shador e coberta por um manto preto. Fiquei sem saber se o traje foi escolhido por exigência do pequeno ditador, ou se foi um acto voluntário de submissão.
Aliás, o "main stream" da Imprensa ocidental, acrítico e islamofílico, descreveu a guerra tribal na Líbia como se esta fosse a repetição do Maio de 68, e não percebe que os regimes mais sanguinários e fundamentalistas, como o de Teerão e de Damasco vão resistindo a qualquer revolta, enquanto os nacionalistas árabes do Cairo e de Tunes foram os primeiros a sucumbir a esta nova fase da guerra civil do Islão, sem que haja qualquer garantia de que os seus sucessores, quaisquer que eles sejam, tenham qualquer preocupação democrática.
Dou por mim a pensar que, afinal, George W. Bush podia ter alguma razão. Pode ter sido influenciado pelo lóbi das armas, e não sabemos se, relativamente ao Iraque, foi enganado ou se foi autor de uma manobra de encobrimento. Mas, porque prezo a nossa civilização, não me parece que a melhor alternativa ao seu belicismo seja esta política de apaziguamento. Infelizmente, a História ensina-nos que não será por essa via que conseguiremos contrariar os propósitos sinistros daqueles que vêem em nós, e nas nossas liberdades, o seu principal inimigo. Aflige-me que tenhamos dúvidas sobre a nossa razão, que estejamos a capitular ao deixar que a nossa tolerância seja abusada, que tenhamos tanta dificuldade em compreender a guerra civil islâmica, e preocupa-me essa atitude timorata do Ocidente face ao proselitismo de fanáticos que tentam destruir a nossa civilização, e que querem o fim da luz e o renascer das trevas.