Conhecido por ser o programa que faz chorar, o Alta Definição tem também, por vezes, o condão de abrir uma discussão diferente sobre um tema na ordem do dia. A entrevista ao ator Vicente Gil deste fim de semana vem no momento perfeito de uma tempestade de discriminação contra os ciganos. Vicente não parece o estereótipo do cigano. Não tem o aspeto, sotaque ou o trabalho que se associam habitualmente à comunidade. E essa diferença coloca-o numa posição interessante, para abordar o preconceito, porque apanha os outros com a guarda em baixo. Em vez de causar logo uma rejeição, causa surpresa e curiosidade.
Mesmo não tendo de o fazer, o jovem ator fala disso por onde passa, desconstrói ideias pré-feitas: "Portanto, a coisa mais interessante é a surpresa. Por exemplo, aqui na novela, eu digo e as pessoas acham que estou a gozar. Mas depois também há o lado bom porque as pessoas ficam curiosas. De repente querem falar e questionar-se, e querem debater-se com os próprios preconceitos", explica.
Esta será a solução para o buraco em que a sociedade mergulhou. Mais curiosidade pelo outro, pelo diferente, pelo desconhecido. Seja ele cigano, indiano, bengali, brasileiro ou o vizinho do lado nascido e criado na nossa terra, mas do qual não sabemos nada. Só a publicação de um excerto nas redes sociais gerou um movimento de partilha, com vários ciganos felizes por mostrarem que são pessoas comuns, com trabalhos bem-sucedidos, com filhos que são exemplo na escola. E outros a contar histórias dos amigos, colegas e conhecidos, que até nem sabiam que eram ciganos. Muito mais do que aquela ideia generalizada que todos conhecemos e que, mesmo por vezes de forma inconsciente nos assola, porque o preconceito é-nos incutido ao longo dos anos. E é preciso combatê-lo.

