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É provocatória a mensagem de Leão XIV que propõe os migrantes e refugiados como "missionários da esperança", tendo em conta a desconfiança com que são olhados no Mundo de hoje. Mas, em boa verdade, a provocação vem de Francisco, uma vez que usou esta fórmula como tema do 111.º Dia Mundial do Migrante e Refugiado, que a Igreja Católica celebra no próximo domingo.
"Num Mundo obscurecido por guerras e injustiças, mesmo onde tudo parece perdido, os migrantes e refugiados erguem-se como mensageiros de esperança", propõe o atual Papa. E acrescenta: "A sua coragem e tenacidade são testemunho heroico de uma fé que vê além do que os nossos olhos podem ver e que lhes dá força para desafiar a morte nas diferentes rotas migratórias contemporâneas".
Excelente síntese. Não é assim, porém, que os migrantes são tratados na discussão da Lei da Imigração, em Portugal. Nem mesmo o facto de contribuírem para o aumento da receita da Segurança Social e de não serem a causa do aumento da criminalidade os iliba das acusações de se aproveitarem dos nossos apoios sociais e de serem um perigo para a nossa segurança. A discussão da Lei de Estrangeiros concentrou-se no controlo da sua entrada e não cuida da sua permanência, como deveria. Preocupa-se mais com a sua expulsão do que com a boa integração.
Até os católicos se deixam seduzir pelos discursos populistas e não escutam os papas, este e o anterior. Francisco deixou quatro verbos que devem orientar a resposta da Igreja às migrações: acolher, proteger, promover e integrar. Nenhum deles é "dificultar" o acesso e "expulsar".
É fácil produzir legislação para controlar a entrada de estrangeiros e fazer deles o bode expiatório de todos os males do país. Difícil é acolher e integrar todos aqueles que são imprescindíveis ao funcionamento da economia e da sociedade portuguesa.