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A emancipação dos jovens tornou-se quase um ato antissistema, num país onde a precariedade faz com que seja normal a ideia de dependência económica dos mais novos em relação aos pais, avós, companheiro(a) ou amigos. Na verdade, boa parte dos jovens vive hoje numa espécie de falsa autonomia em que, para sair da casa dos pais, tem de se juntar, seja com amigos ou com namorado(a). Salários baixos e habitação proibitiva forçam a partilha dos custos. Portugal é o país europeu onde se registou a segunda maior taxa de jovens a viver em casa dos pais. Os dados do Eurostat mostram que 56,4% dos jovens portugueses entre os 25 e os 34 anos viviam em casa dos pais, uma percentagem que aumentou 11,9 pontos percentuais em cerca de dez anos. São números arrasadores e que nos obrigam a uma reflexão sobre como as nossas relações pessoais estão a evoluir. A maioria dos pais aconselha os filhos a construir um futuro para si, independente e disponível para escolher. O paradigma do jovem morar sozinho já não existe nos tempos de hoje. Muitos dos nascidos nas décadas de 60 e 70 saíram de casa quando encontraram um parceiro e não costumavam divorciar-se. Mas a realidade de alguns jovens atuais pode até ser semelhante à dos pais. Como no passado, hoje, o namoro é uma das poucas opções para os jovens saírem de casa para tentar conquistar a tão almejada independência. Se antigamente se aturavam um ao outro, porque a opção do divórcio estava fora de questão, talvez muitos casais ainda hoje estejam juntos porque não têm alternativa. No fundo, o que antes era tradição ou conservadorismo, hoje acontece pela via do empobrecimento. E ainda há os reformados. Sim, esses que estão a colmatar as deficiências de uma economia em crise e a ajudar os filhos e netos por amor. Nem mesmo os pensionistas, após décadas de trabalho, estão emancipados. Levam consigo a carga de ajudar a família, como, exemplo, dar entrada para um apartamento, comprar um carro ou outras despesas, para que o fardo dos jovens seja menor. A questão é que poucos são aqueles que podem dizer que estão emancipados.
*Editor-executivo