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A paixão por um clube não se explica. Vive-se e sente-se como algo que sempre fez parte de nós próprios. Por isso tenho um respeito absoluto pelas opções de cada pessoa enquanto valor sagrado que cada um de nós constituiu. No meu caso, completarei no próximo ano 50 anos de associado do Futebol Clube do Porto, sendo que já antes me deslocava ao domingo ao estádio das antas, onde então era permitido às crianças ver o jogo, desde que acompanhadas por um sócio adulto. Tinha a sorte de não precisar de utilizar o então muito comum "ó, meu senhor, leve-me consigo", porque ou acompanhava o meu Pai, ou então caminhava a pé durante quase uma hora, partilhando a companhia do saudoso sargento Carvalho Júnior, a quem devo muito do que aprendi na forma de ser Porto e de estar na vida. Mas permitam-me então que exprima aqui o que é ser Porto e porque é que isso representa muito mais que uma mera opção por um clube.
Fundado na matriz da ligação da cidade ao comércio o clube é um exemplo da resistência a um histórico e doentio centralismo, que há muito atrofia o país e lhe restringe grande parte do seu potencial de desenvolvimento. E não falo de mera figura de retórica, porque basta consultar as leis e o modelo absurdo que vigorou até depois da instalação do regime democrático, em que durante décadas foram impostas regras que, por exemplo, obrigavam à rotação da presidência da Federação Portuguesa de Futebol entre os clubes de Lisboa, ou então ao caricato que determinava que os delegados dessa entidade não podiam residir a mais do que 30 km da capital! Foi a partir deste contexto que o Porto se transformou num clube e numa marca global, conquistando taças de campeões europeus, ligas Europa e taças intercontinentais, como nenhum outro clube português foi capaz de o fazer até hoje. Por mais que isso custe aos que de forma ardilosa tentaram destruir o nosso mais sólido pilar dos últimos 40 anos, vendendo a ideia de que no ano em que tudo ganhamos a nível internacional e em que fomos a base da seleção nacional que foi à final e deveria ter ganho o campeonato europeu, precisávamos afinal de ajuda para ganhar ao Estrela. Ficamos espantados, mas continuamos a olhar em frente.
Continuaremos a trabalhar arduamente em cada dia para afirmar os valores do clube e da sua consolidação no território nacional e internacional. Porque ser Porto é e será muito mais que ser de um clube.
PROFESSOR CATEDRÁTICO DA U. PORTO