Será a guerra comercial uma oportunidade para Portugal?
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As tensões comerciais entre os EUA, a UE e a China não são apenas disputas longínquas entre superpotências; representam uma oportunidade rara para Portugal. Sempre que os gigantes travam batalhas económicas, abrem-se brechas que os restantes países podem aproveitar - desde que saibam agir com visão.
A China sente a pressão. Bruxelas impôs tarifas de até 35% sobre veículos elétricos chineses, argumentando concorrência desleal. A resposta foi imediata: a BYD prepara uma fábrica na Hungria avaliada em 4 mil milhões de euros e Espanha já soma mais de 10 mil milhões de investimento chinês em energia verde e mobilidade elétrica. A mensagem é clara: se não conseguem vender de fora, os chineses preferem produzir dentro da Europa.
Portugal tem aqui uma janela de oportunidade. O projeto de Sines, com a instalação de uma fábrica de baterias da CALB no valor de 2 mil milhões de euros, mostra que é possível entrar neste jogo. Mas um investimento isolado não basta. É necessário multiplicar casos semelhantes e projetar o país como destino estável e competitivo, capaz de acolher setores de futuro.
O desafio é, contudo, evidente. A escala industrial portuguesa não se compara à de Espanha ou Hungria. Compete ao Governo, por isso, valorizar o que distingue o país: a ligação a Macau como ponte para a Ásia, a estabilidade política, a posição estratégica no Atlântico e a aposta na transição energética.
Entretanto, a guerra comercial entre Washington e Pequim não dá sinais de tréguas. As tarifas de 30% sobre exportações chinesas para os EUA incentivam empresas a deslocar a produção, reconfigurando cadeias globais de valor. Quem souber captar essa vaga garantirá emprego qualificado, receitas fiscais e integração em setores tecnológicos de ponta.Portugal não pode limitar-se a assistir. Precisa de alinhar incentivos nacionais com a estratégia europeia e agir de forma proativa. Sem uma narrativa industrial clara, arrisca-se a perder relevância, celebrando acordos pontuais, enquanto os vizinhos asseguram os grandes ganhos.
A questão é simples: vamos ser espectadores da nova geografia económica mundial ou protagonistas de uma transformação que pode definir o futuro do país?