A inesperada e alegada candidatura de Nuno Cardoso à Câmara Municipal do Porto (convém sublinhar que é alegada, uma vez que o ex-autarca já por várias vezes ameaçou ir a votos) será, a concretizar-se, um facto histórico. Julgo que nunca houve tantos candidatos à liderança da autarquia portuense (são sete, desta vez). Por si só, o número vale o que vale. Visto no contexto de umas eleições renhidas e de importância política acrescida como são as próximas autárquicas, o número e, sobretudo, o nome dos candidatos vale muito.
Corpo do artigo
A questão primeira que se coloca é a de saber por que razão decidiu Nuno Cardoso avançar, dado que o espaço político está já bastante ocupado, senão mesmo totalmente ocupado. A tese em marcha nos "mentideros" políticos é a tese do drone (em linguagem militar, um drone é um veículo aéreo não tripulado, logo comandado à distância). Ou seja: Cardoso estará, apenas, a fazer um favor a Menezes, na medida em que, conquistando votos na área do PS e entrando no eleitorado de Rui Moreira, fragmenta a votação dos adversários mais diretos do candidato do PSD.
Sendo que um drone não tem razões nem emoções e sendo que quem o comanda fá-lo escondido e com possibilidade de nunca aparecer, a tese parece tentadora. Ainda por cima porque há factos que aparentemente a sustentam, como a estreita ligação profissional que Cardoso mantém com a Câmara de Gaia ou o (aparente) apoio a Menezes, objetivado pela sua presença na sessão de apresentação da candidatura do ainda autarca de Gaia.
A tese tem, contudo, um problema. A colagem de Cardoso a Menezes não beneficia nem um nem outro. Não beneficia Menezes porque, a ser verdade, tratar-se-ia de uma demonstração escancarada da fragilidade da candidatura (a sondagem publicada pelo JN, que o coloca a poucos pontos de distância de Moreira e Pizarro, está fresquinha na memória do eleitorado). Não beneficia Cardoso porque, lá está, o transforma numa espécie de drone.
Há uma segunda hipótese, também nada bonita. Atrapalhando a campanha, Nuno Cardoso pode obter uma votação suficiente para, no final das contas, ser ele o fiel da balança - e com isso garante presença no próximo executivo camarário. A vida está difícil para todos...
E há uma terceira hipótese. Nuno Cardoso é candidato porque, pronto, acordou, um destes dias, com essa disposição e imaginou o povo, na padaria, no café, na rua, a sufragar-lhe, aos berros e aos beijos, a ambição. Sucede que o povo, por muito grato que esteja pelo trabalho que Cardoso fez na Câmara do Porto (valha a verdade: assim de repente não se veem grande motivos para tal satisfação), o povo desconfia - e bem - do incerto. E aqui alguma coisa parece não bater certo. O povo, por esta altura, estará a pensar: será Cardoso um drone?