As últimas semanas têm sido marcadas pelo protesto crescente e consolidado dos professores, fruto de um acumular de descontentamento coletivo, derivado de fatores múltiplos e distintos.
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De entre as várias situações de desconforto que são relatadas em direto e pelos próprios, em tudo o que está ligado à precariedade contratual, vencimentos ao longo da carreira, modelos de avaliação e progressões, há uma razão que sobressai pela forma comum e veemência como é expressa: são contra qualquer tipo de descentralização, seja regional ou municipal, na forma de recrutamento. Ou seja, confiam muito mais num sistema único e centralizado, em detrimento das possibilidades e formas alternativas, flexíveis e com maior autonomia, para algumas contratações específicas. Tal significa que uma classe profissional com uma força tão expressiva como a dos docentes do Ensino Básico e Secundário abdica, por falta de confiança, da possibilidade de recrutamento com base territorial, preferindo o modelo central, cego, indiferenciado e abstrato, mas que lhes parece mais seguro, porque regulado pela regra "santa" da graduação profissional. Mesmo quando esta opção é apenas baseada no período de frequência do Ensino Superior. Este sinal parece-me preocupante, até porque pode gerar situações de absoluta injustiça para quem se decidir por estudar em instituições mais prestigiadas, por norma também mais exigentes.
A autonomia universitária, consagrada na Constituição de 1976 e com forma legislativa na década de oitenta, significou um enorme progresso para as instituições de Ensino Superior. O que assistimos é à reivindicação por parte das IES é ao aumento dessa autonomia e flexibilização da gestão. É por isso preocupante esta aversão generalizada que a maioria dos professores apresenta por um modelo alternativo, mesmo que parcial, ao sistema vigente: afinal, parece que há um centralismo bom.
*Reitor da UTAD