"O mundo está a entrar numa nova era de grandes administrações públicas" - tal é o título de um artigo recente da insuspeita revista liberal "The Economist".
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A prova é feita com números sobre o crescimento do Estado e da despesa pública nos últimos anos, mesmo em países com governos conservadores, como o Reino Unido, e com análise dos fatores que contribuem para esse crescimento.
Mesmo sem aumento do perímetro do Estado, há desde logo o aumento do custo dos serviços públicos, como a educação e a saúde, em ritmo superior ao da economia, pelo facto de serem intensivos em trabalho e terem taxas de produtividade mais baixas.
Acresce que os governos e administrações têm hoje cada vez mais coisas para fazer e que isso mesmo lhes é exigido pelos cidadãos. Os cidadãos são mais educados e conhecedores e, por isso, exigem maior qualidade na educação e na saúde, no apoio à terceira idade ou no investimento na transição digital e climática.
A crise por que passamos contribuiu ainda mais para tornar clara essa evidência, não apenas nos domínios da saúde e do apoio social, mas também no investimento na ciência e nas competências digitais, para acrescentar apenas mais dois exemplos.
Tudo isto mostra como são desajustadas da realidade as propostas políticas que vejo em alguns programas de Direita, como os do PSD, CDS ou da IL, de reduzir substancialmente impostos e, consequentemente, retirar ao Estado os recursos que lhe permitem reforçar a sua ação em domínios como aqueles que antes referi. Aliás, se bem me recordo dos debates quinzenais onde participei quando era ministra, em especial os do Orçamento, rapidamente a Direita se esquece da sua conversa eleitoral e passa a exigir do Governo mais promoções em carreiras especiais, mais despesa pública no desporto, na cultura, na educação, na saúde, na proteção social, na segurança, nas estradas e em tudo o resto, sem qualquer conta, peso e medida.
Obviamente, esse crescimento do Estado exige uma intervenção mais ambiciosa, que melhore a eficiência das administrações públicas, alivie a sua carga burocrática e, com coragem, reduza ou elimine funções desnecessárias, libertando recursos para as que se tornaram mais exigentes. Só assim, volto a referir a "Economist", o funcionamento do Estado acompanhará o progresso da humanidade, como aconteceu no século passado, fazendo com que as sociedades onde vivemos sejam mais justas e mais prósperas.
*Eurodeputada do PS