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Como aqui escrevia na semana passada a propósito do caminho de ferro, é impressionante como a progressiva falta de pragmatismo e sensatez nos têm coletivamente enredado tornando coisas simples em coisas muito complicadas.
As fotos de Mapplethorpe com caráter sexual explícito e de natureza sadomasoquista, as únicas que foram alvo de reserva, obrigam, naturalmente, a este tipo de resguardo.
A violência com que, nestas fotos, o autor procurou o inusitado, palavra que preferia a "chocante", torna a experiência radicalmente agressiva e muito difícil de contextualizar junto de qualquer criança ou adolescente.
Como em qualquer caso semelhante, os limites são sempre difíceis de estabelecer e pode acontecer que um recém-universitário de 17 anos se sinta preparado para compreender a proposta artística sem deixar de se interrogar sobre o plano moral e ético em que se move o seu autor. Assim, sem complexos e sem subterfúgios.
Mas, também todos sabemos, há que decidir sendo que nas margens fica sempre a minoria.
Mais do que isto é agir por qualquer outra motivação que nada tem a ver com o zelo pela liberdade, pela arte ou pelo respeito autoral.
Custa sobretudo a crer num rasgar de vestes após uma inauguração em que a reserva estava expressa. Aliás uma outra exposição, que certamente não terá passado ao lado do diretor artístico de Serralves e que por estes dias coabita com "Pictures" de Mapplethorpe , tem uma sala com reserva de entrada devida e claramente expressa.
É grave este assunto porque todos percebemos que não é a exposição nem as suas regras o que está em causa e o que quer que seja que move o seu protagonista não honra a transparência nem a lealdade.
Ora esses são valores caros a uma cidade como o Porto que não precisa que a defendam de pseudo-conservadorismos porque é livre, burguesa e liberal.
Por cá ainda temos sensibilidade para fruir e bom senso para compreender sem termos de nos esconder atrás das tão úteis e politicamente corretas "causas fraturantes".
ANALISTA FINANCEIRA