Oferecer a alguém 67 minutos foi o apelo que a Fundação Mandela, com a adesão das Nações Unidas, lançou ao Mundo para assinalar os 93 anos de vida de Nelson Mandela.
Corpo do artigo
Tão simples e tão difícil, esta proposta global. Simples porque pareceria banal que cada um de nós fizesse alguma coisa pelos outros. Difícil porque o nosso quotidiano está organizado de tal forma que nos centramos em nós e nos que nos estão mais próximos. E é tão mais confortável ver na televisão um concerto solidário com artistas que nos provocam breves lágrimas.
Sessenta e sete anos passaram desde que Nelson Mandela se tornou fundador da estrutura juvenil do ANC, o partido a que ainda hoje está ligado. Sessenta e sete minutos são uma parcela ínfima quando pensamos que ele esteve preso durante 26 anos por lutar contra um regime que, com força de lei, discriminava as pessoas em função da cor da pele.
O impulso de desobediência civil que guiou Mandela ao longo da vida é o "não" que faz mover a humanidade. O sofrimento dele e de muitos outros que morreram e sofreram ao seu lado deu frutos: os últimos anos de cativeiro do hoje ancião foram vividos em secretíssimas negociações com Willem de Klerk, o derradeiro presidente sul-africano do apartheid, preparando a transição do poder.
Recentemente, um pequeno livro escrito por Stéphane Hessel, judeu nascido na Alemanha poucos meses antes de Mandela (um em 1917, o outro em 1918, andava o mundo em guerra) vendeu-se aos milhões pela Europa fora. Apelava à indignação - o título é "Indignai-vos!" - e à consciência cívica e política. O tom das comemorações dos 93 anos de Mandela é parecido: apela à acção, propõe-nos que façamos algo que inspire mudan ça.
A própria Fundação Mandela sugere alguns gestos: ler para alguém que não pode fazê-lo, oferecer o velho computador, dar sangue, conversar com um doente terminal, oferecer uma árvore a um lugar degradado, dar bons livros a uma biblioteca.
"Coloco nas vossas mãos os anos de vida que me restam", disse Mandela em Fevereiro de 1990, no comício memorável que marcou a liberdade do prisioneiro número 466/64.
Os últimos 21 anos não tornaram a África do Sul o país perfeito, longe disso. Os números mostram enormes desigualdades e uma curta esperança de vida, discriminações que não estão na lei mas subsistem. À distância, não podemos mudar isso. Mas podemos pelo menos fazer uma das 67 coisas que a Fundação Mandela propõe: escutar a história de vida de alguém mais velho. Os nossos "mais velhos" podem ensinar-nos muita coisa. Sessenta e sete minutos são muito pouco tempo para aprender.