O balneário do ginásio que frequento é um interessante laboratório: composto por homens de várias idades, de várias proveniências, de várias profissões, é assim uma espécie de microcosmos do país. As conversas são maioritariamente dedicadas ao futebol (não podia ser de outra forma!). Mas, quando um outro assunto ganha, pela sua dimensão e importância, o estatuto de discussão do dia, é muito curioso anotar as reacções de uns e outros.
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Já os vi tristes e desanimados com o rumo do país; já os vi esperançados (quando o Governo mudou de líder); já os vi indiferentes... Mas nunca os vi tão cabisbaixos, desiludidos, amedrontados, estupefactos como na última sexta-feira, um dia depois de Pedro Passos Coelho nos ter metaforicamente pontapeado o estômago vários vezes, até nos sorver (quase) todas forças.
Na ressaca do discurso de guerra, quais foram as primeiras acções dos meus companheiros de ginásio? Uns desistiram da TV Cabo, outros acabaram com regalias dentro do próprio ginásio, outros ainda foram ao banco fazer contas ao empréstimo da casa, outros decidiram que, a partir de agora, comprarão todas as marcas brancas que puderem no supermercado... Ou seja: em pânico com o que tinham ouvido na noite anterior, (quase) todos passaram a olhar para a palavra poupança com outros olhos. O mesmo aconteceu, seguramente, por esse país fora...
Ocorre que o mais dramático do que nos foi apresentado pode não estar sequer no presente, mas sim no futuro próximo. Verdade que a pancada será duríssima nos próximos dois anos. Mas ninguém de boa-fé pode dizer que, chegados a 2014, teremos contas limpas e condições para reanimar a economia. Depende. E não depende de nós: depende da evolução da economia da União Europeia, depende dos importadores, depende da China, depende de uma série de factores exógenos que, se correrem mal, deitarão tudo a perder.
Periclitante como é, julgo que a pior das abordagens ao estado em que o país se encontra é a abordagem puramente ideológica, que o Bloco de Esquerda e o PCP, por exemplo, adoram. Está claro que não há governos inocentes nesta matéria - há apenas graus de responsabilidade diferentes. Estou com aqueles que entendem ser fundamental apurar todas as responsabilidades. Mas este não é o tempo para isso. Este é o tempo em que, por muito que custe a muita gente, só nos resta uma saída (porventura a última antes de colapsarmos definitivamente, ao jeito da Grécia): fazer tudo bem feito, acelerar até ao limite, para que, daqui a um ano, estejamos em condições de pedir à troika mais tempo para corrigir o défice sem matar a economia.
É um caminho brutal que não resistirá a hesitações com os protestos e/ou contemplações com os mais fortes. É um caminho com efeitos sérios no emprego, nas famílias, nas pequenas e médias empresas. É uma espécie de pistola que temos apontada ao coração. É um caminho que nos obriga a ajustar as nossas vidas a uma recessão violenta. Mas é, se não quisermos recorrer a argumentos quixotescos, o único caminho que nos resta.