Escrito por Bill Bryson, um reputado autor americano de livros de viagens, o livro com o título em epígrafe é de leitura obrigatória. Porque, por boas ou más razões, parece que temos mais tempo para ler. Porque é divertido e muito bem escrito - uma deliciosa viagem "por um espesso emaranhado de conjeturas tecidas em torno de alguns dados factuais".
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Haverá imagem mais nítida da nossa atual viagem diária.
Afinal, estamos todos no centro de uma gigantesca teia de aranha informativa, pasto fácil para um predador que não conseguimos ver. Um predador composto. Meio vírus, meio político e meio mediático.
A vida de Shakespeare, pela escrita de Bryson, apresenta-se de igual forma. Sabemos que escreveu e representou, muito por causa de dois amigos, John Heminges e Henry Condell, que publicaram o "First Folio" após a sua morte. Subsistem cerca de 300 exemplares, a maior parte dos quais depositados "num edifício modesto numa rua agradável, a dois quarteirões do Capitólio, em Washington DC - a Folger Shakespeare Library." (Henry Clay Folger foi presidente da Standard Oil e começou a colecionar "First Folios" no início do século XX).
Não sabemos como se parecia (não há nenhum retrato fidedignamente autenticado), não se conhece o seu percurso escolar e não há registos do seu paradeiro durante longos períodos da sua vida.
Não obstante, sabemos que "as obras de Shakespeare contêm 138 198 vírgulas, 26 794 vezes os dois pontos e 15 785 pontos de interrogação; que nas suas peças as orelhas são referidas 401 vezes; (...) que as suas personagens falam 2259 vezes de amor, mas só por 183 vezes aludem a ódio; que usou damned (maldito) 105 vezes e bloody (reles, vulgar) 226 vezes, mas Bloody-minded (perverso) só duas".
E Bryson continua com um rol fabuloso de informação densa, minuciosa e raramente útil sobre uma figura que teima em não se deixar conhecer.
É verdadeiramente divertido. Mostra como avalanchas de informação não servem realmente para quase nada. Faz lembrar, muitas vezes, o telejornal.
*Analista financeira