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Ir à televisão era, até há bem pouco tempo, sinónimo de projeção, de escolha seletiva, a garantia, mesmo, de 15 minutos de fama que catapultavam para o ambicionado estatuto de pessoa famosa, empresa conhecida, político nacional.
Agora já não será bem assim. Ainda que os conhecidos programas da manhã, da tarde e dos infindáveis finais de semana se dediquem a trazer para dentro do quadrado o povo anónimo, já ninguém volta para casa com o selo do "fui à televisão", "a minha vida será diferente de agora em diante".
Pela mesma medida, já nada é verdadeiro "porque deu na televisão", meteorologia, comentário e políticos incluídos.
Exemplo interessante é a versão portuguesa do "Shark tank" que, na TV americana, serviu para mostrar ao Mundo ideias fantásticas, equipas motivadas e investimentos lucrativos.
O que acontece por aqui é muito diferente. As empresas ou potenciais empresas que vão aparecendo são, até agora, muito pouco inovadoras (organização de festas?), quase sempre com pouco ou nenhum historial e sofrivelmente apresentadas. Há quem não saiba responder a perguntas sobre número de clientes, margens ou potencial estimado de crescimento.
Num país onde, até talvez de uma forma excessiva, se fala permanentemente em empreendedorismo tecnológico, setores inovadores e outras coisas parecidas, a montra que este programa apresenta é feita de pequenos negócios com pouco potencial e ainda menos valor acrescentado.
Por outro lado, pelo menos um dos membros do júri não escapa, a meu ver, a um juízo pouco favorável sobre as motivações da sua participação. É que no programa americano nenhum dos membros do júri precisava de promoção conseguida desta forma.
Mas o mais estranho é que a seleção dos casos terá sido feita pela Universidade Católica, em cima de um universo de mais de 1000 ideias /empresas apresentadas.
Considerando que vários parques tecnológicos e várias incubadoras de empresas acolhem empresas e equipas de fortíssimo valor acrescentado e igual potencial de desenvolvimento, resta-me a conclusão de que o mensageiro mata a mensagem e que, de tanto tentar ganhar o povo, já ninguém quer, para efeitos sérios, os 15 minutos de fama da nossa televisão.