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Neymar Jr. acaba de protagonizar a maior transferência da história do desporto-rei. São 222 milhões de euros por um talentoso ser humano com 25 anos, pagos pelo Qatar. Perdão, pelo petromilionário dono do Paris Saint-Germain. A verdade é que já não há moral.
O PSG garante que o plano económico para o retorno de investimento do seu novo 10, pensado a dois anos, é garantido e que já se começa a sentir nos cofres: o valor do clube aumentou, as vendas online dispararam, o avançado é o cabeça de lista das gerações pós- Ronaldo-Messi. Já há quem vá mais longe e fale num possível retorno na ordem dos mil milhões de euros! Dá para acreditar?
Uma coisa é certa, há muita gente a esfregar as mãos com este negócio. Em particular, destaco os donos do cofre do Barcelona, que encaixou duzentos-e-vinte-e-dois-milhões-de-euros. E o Fisco francês, com o ministro das Finanças, Gérald Darmanin, a liderar a claque, pelos 300 milhões de euros que o Estado vai receber com a chegada do astro brasileiro à capital francesa. Este dinheiro é resultado do valor estratosférico da transferência e do simpático salário que o jogador vai auferir. Pausa. Trinta milhões de euros por ano!
Mas eu tenho de dar os parabéns por esta transferência a um portuense que brilha no Mundo. A maior transferência do futebol mundial passou pelas mãos de Antero Henrique, o homem forte do PSG. Pelas mãos da sua competência na gestão, do seu talento e do seu inato conhecimento das pastas desportivas.
Na verdade, todos sabemos que o futebol não é só o espetáculo. É um negócio. E todos os negócios têm como meta o lucro. Mas devemos também desmontar todos os ângulos e refletir. Muito além dos números, mas com números preocupantes.
O Mundo - à semelhança do futebol - é desigual. Há mais de 2 mil milhões de pessoas pobres ou no limiar da pobreza. O país de Neymar está um caos. É certo que o dinheiro gasto pelos clubes desportivos, e respetivos donos - e o futebol não é o caso mais obsceno -, aplicado a causas maiores, não resolveria todos os problemas do mundo. Nem a pobreza, em particular. No entanto, questiono como é que nestes negócios de lazer e espetáculo - tão pouco produtivos - se gasta dinheiro exorbitante.
A fasquia, depois de Neymar, está ainda mais elevada. É assustador. Dá a sensação que não há limite, é imoral. O futebol é um jogo de emoções, de impulsos, de excitações. É tudo verdade. Mas não pode valer tudo. Só queremos show de bola.
*EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO