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Já que não há bom senso. Já que não há respeito institucional. Já que não há vergonha em falar com o coração na boca. Já que não há limites. Já que não há fronteiras. Já que não há bons nem maus, e apenas os nossos contra o Mundo. Já que não há dias entediantes bafejados pela retemperadora normalidade. Já que não se cultiva o hábito da pausa higiénica de dez segundos em que respiramos fundo antes de dizermos um disparate. Já que neste Portugal bipolar em que os movimentos de insurreição social parecem cardumes atordoados onde as palavras assumem a função do combustível numa fogueira alta. Já que o pasto nutritivo das redes sociais cega multidões, sobretudo no futebol e na política. Já que não sobram, pelo menos à vista desarmada, bastiões públicos de integridade e sobriedade. Já que a vontade que nos impele é de desligarmos a ficha. Já que o futuro vai ser garantidamente pior. Já que o saco encheu, será que podemos finalmente pedir um pouco de silêncio? A ninguém em particular. A todos em geral.
Jornalista