Duas pequenas crónicas em memória de Manuel António Pina
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O homem grávido
Em tempos, a Imprensa noticiou a história de um cidadão albicastrense, notificado a devolver à Segurança Social a desmesurada quantia de 41 euros e 10 cêntimos, indevidamente recebida em Outubro e Novembro de 2008, pela sua "gravidez de risco". A missiva não era acompanhada de qualquer nota pessoal, exprimindo o desejo de que a criança vá bem na escola.
A história foi inicialmente contada pelo jornal regional "Reconquista", quiçá esperançado numa hipotética retoma do poder masculino sobre a mulher, mormente porque a ser verdade, tal facto introduziria a mais pragmática novidade da "Gestação de dois meses"; se as Amazonas souberam vencer batalhas com presteza e coragem, por que razão não haveriam os homens de almejar dar à luz, numa questão de semanas?
Afinal era engano! A devolução dos 41 euros e 10 cêntimos era devida, sim senhor, mas por desrazões bem mais prosaicas: tratava-se do subsídio de refeição indevidamente pago, à razão de 1 euro e 88 cêntimos por almoçarada. Ainda supus que o "ex-funcionário da Unidade de Desenvolvimento e Administração de Recursos Humanos do Instituto de Segurança Social de Castelo Branco" (ufa!) iria reclamar pelo sucedido, por terem confundido a sua barriguita de estimação com uma gravidez de risco, tomando a nuvem por Juno. Mas tudo se esclareceu, a bem da alma de Darwin que bem pode repousar em paz. Não foi nesse sentido que evoluiu a humanidade.
Imagino que quem não tenha ficado nada satisfeita com o erro da unidade dirigida pela Dr.ª Lurdes Lourenço, tenha sido a diocese de Fátima. É que um boato rapidamente se torna verdade e já corre entre os fiéis que o prodígio de os homens de Castelo Branco conseguirem engravidar, mais não passa do que concorrência desleal dos célebres Milagres de "Lurdes".
Públicas virtudes, vícios privados
Há meses, o JN contou o caso de uma professora primária de Penilhos, Mértola que terá sido identificada em sites de conteúdo pornográfico por pais (com mais vagar) dos nove alunos que frequentam aquela escola alentejana. Os ditos pais - e presume-se que também as mães - terão entretanto alertado a direcção do Agrupamento de Escolas de Mértola para que fosse apurado se algum dos vídeos tinha sido "realizado" no espaço público da escola. Alegavam os progenitores de que em pelo menos um dos casos era possível identificar uma sala de aulas como cenário, dado conseguir reconhecer-se as mesas, o quadro e outra sorte de materiais pedagógicos - não se sabe se adereços - como seja, um esqueleto.
A discussão sobre públicas virtudes e vícios privados é antiga, complexa, pantanosa e tantas vezes hipócrita pelo que não cabe no espaço desta crónica. Tal como é a sua imagem em espelho, os vícios públicos e as virtudes privadas; são tão dúbias as visitas secretas que os irrepreensíveis Doges de Veneza encetavam por altura da Páscoa aos aposentos das noviças beneditinas, como a imagem de militares nazis escutando música clássica no conforto do lar, depois de um "dia de trabalho" a gazear prisioneiros num campo de extermínio.
Pelo que, o que a professora faz do seu tempo livre - seja ela solteira, viúva, casada ou divorciada - é do absoluto foro íntimo da sua consciência. Já a hipótese de ter escolhido como cenário para as ditas "produções" a sala onde habitualmente dá aulas - mais agora que está na ordem do dia, para outras classes profissionais, a completa separação entre "público" e "privado" - já se me afigura mais problemático.
A docente, entretanto, continua a alegar que o que se vê no vídeo é montagem. Estou em crer que sim.