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O combustível subiu, Portugal tem uma fronteira extensa com Espanha onde o combustível é mais barato mas, segundo o sr. ministro da Economia, o rugido das trombetas de Aljubarrota devia impedir-nos de procurar, em território inimigo, o alívio de uma conta menos pesada.
É que a forma como o disse mais parecia um anátema lançado sobre o acúmulo do IVA em Espanha do que propriamente uma aflição sobre a magra diminuição do nosso.
Foi falta de jeito, decerto, mas foi, sobretudo, falta do que fazer.
É que, em Portugal, o ministro da Economia ou trata da energia, ou dos transportes, ou das infraestruturas, ou da indústria. Se a energia ficar com o Ambiente ou for apenas assunto de mercado, os transportes e as infraestruturas com o Planeamento, e a indústria, que é como quem diz, as exportações, com os Negócios Estrangeiros, o ministro da Economia fica, basicamente, às aranhas.
E, no entanto, podia dedicar-se a criar um ambiente favorável ao desempenho mais fluido da atividade económica sem deixar que o tema dos custos de contexto caia sistematicamente nas profundezas da concertação social ou numa espécie de novo-riquismo da modernização administrativa obcecada pelas Lojas do Cidadão ou pelos Simplex.
Ou então, podia olhar com mais nitidez e preocupação para o setor do comércio interno que (segundo o INE) agrega 227 mil empresas, com um volume de negócios de 118 mil milhões de euros e que emprega 723 mil pessoas.
Ora, caso o sr. ministro não tenha reparado, há cada vez mais lojas fechadas nas nossas cidades. E as que ainda se mantêm abertas vão subsistindo pagando pouco, investindo menos e gerindo (sobretudo no caso das lojas de vestuário e calçado) um eterno período de saldos, selvagem, não fiscalizado, que degrada as margens e distorce a concorrência entre os muitos grandes e os mais pequenos.
Isto sim, caso não se tenha apercebido, pode erodir significativamente a arrecadação do IVA e estimular comportamentos deflacionistas, os mesmos que o BCE tenta desesperadamente suster.
Mas pensar a ação do Ministério da Economia assente neste tipo de problemáticas implica uma visão estratégica sobre o povoamento, a geração de tráfego, as condições de qualificação urbana, o papel autorregulador dos setores e o das políticas públicas que suprem as falhas de mercado. Implica, enfim, uma transversalidade de raciocínio e, sobretudo, de articulação interministerial que a orgânica dificulta e o bem-estar institucional não recomenda.
À falta de melhor, apaziguamos os transportes e recusamos pedir desculpa.