Para muitos propósitos, a simplificação é fundamental. Um mapa à escala um por um não serve para nada. Se quisermos saber onde ficam Portugal e o Brasil, uma escala pequena serve (desde que se veja onde está Portugal...). Mas, se quisermos ir do Porto para Torre de Moncorvo, esse mesmo mapa não tem qualquer utilidade. Precisamos de um muito mais detalhado que evidencie as estradas principais e, também, algumas vias secundárias.
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Na ânsia de fazer passar a mensagem, pressupondo que o cidadão não tem tempo (ou vontade) para reflectir, simplifica-se. Reduz-se ao essencial. Ou ao que se considera o essencial. Extremam-se as opções. Para certos propósitos serve. Para outros requer-se uma análise mais elaborada, complexa.
"Os pensionistas têm sido maltratados pelo Governo" chega se quisermos dizer que as políticas seguidas não os terão, globalmente, favorecido (estou a dar um exemplo, não a tratar de uma situação concreta). Pode, porém, suceder que essa tendência esconda situações muito diferentes. Se alguém comer um bife e outro não comer nada, em média comeram meio bife cada um... Os valores das pensões são muito diferentes entre si, o seu peso no rendimento dos reformados também, as carreiras contributivas e idade diferem umas das outras. Sem tomar estes, e outros, factores em consideração não será possível definir uma política de pensões de reforma adequada, quer em termos de sustentabilidade quer em termos de justiça social. Os pensionistas, como os antigos combatentes ou os imigrantes não são grupos homogéneos. Definir políticas como se o fossem é como usar um mapa-múndi para encontrar o caminho do Porto para Moncorvo. Não é preciso saber muito do assunto para se chegar a esta conclusão. Tal como não é preciso saber de investigação judicial para constatar que alguma coisa não bate certo no discurso, e na prática, da Procuradoria-geral da República. Ouvimos regularmente investigadores, juízes e magistrados queixarem-se de falta de meios. Vemos casos importantes como o Freeport e a Operação Furacão arrastarem-se anos a fio, sem conclusões ou desenvolvimentos dignos de nota. Numa situação está em causa a honorabilidade do primeiro--ministro (e não adianta vir dizer que é apenas uma questão mediática). Na outra, o bom nome de alguns dos principais bancos nacionais. Diz o bom senso que, perante a escassez de meios, há que definir prioridades. Resolver os casos mais importantes na perspectiva da res publica. Acabar com os adiamentos e as demoras, campo onde medra a maledicência que mina reputações. Todo o contrário do que deve ser a Justiça. Não parece ser essa nem a opinião, nem a preocupação, do senhor procurador. Vai daí, anuncia a abertura de novas investigações, abrangendo todos os bancos. Como pergunta Daniel Bessa no "Expresso": a todos? Por quê? Os meios que vai mobilizar não permitiriam acelerar a conclusão dos outros dois casos? Toda a gente é igual perante a Justiça. Parafraseando Orwell, há, porém, casos em que há uns que devem ser mais iguais que os outros. Por causa dos "outros" que têm o direito a exigir da Justiça celeridade. Sempre. E ainda mais quando está em causa quem chefia e pode vir a chefiar o Governo da Nação. Simples, nãoé?!