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Há uns anos, as noites de Natal e de fim de ano eram sinónimos de uma avalancha de mensagens trocadas por telemóvel, numa competição que deixava muitos agarrados aos ecrãs luminosos na tentativa de enviar a mensagem mais original.
Julgo que a maior parte dos leitores me acompanha no facto de não ter recebido este ano mais do que uma meia dúzia de mensagens. É o sinal dos tempos marcados quer pela crise quer pela omnipresença das redes sociais, que acabaram com este maná para as telefónicas. Para perceber o sentimento dos portugueses é preciso navegar pelos milhões de votos de Boas Festas colocados no Facebook. E aí o que predomina é claramente a falta de saudades que 2014 vai deixar, havendo mesmo muitos que não hesitam em classificar o ano que finou como "um dos piores da sua vida".
É por isso ainda difícil para muitos portugueses vislumbrarem os "sinais de esperança" que o presidente da República referiu na sua mensagem de Ano Novo ou interiorizarem que "a economia está a crescer, a competitividade melhorou, o investimento iniciou uma trajetória de recuperação e o desemprego diminuiu".
Ver que só estrangeiros aparecem para concorrer à concessão de empresas tão importantes como a STCP ou a Metro, ou que o Governo conseguiu criar uma enorme confusão no aumento do preço da gasolina - para referir duas das mais importantes notícias do JN dos últimos dias - não são de molde a dar ânimo a muitas esperanças para 2015.
E o presidente, e bem, coloca também a tónica da sua mensagem num dos maiores riscos que corremos no ano que agora começa, ao pedir que os agentes políticos "prepararem o período pós-eleitoral". Ele, que já uma vez falhou na tentativa de concertação entre forças políticas, percebe bem que os sinais de descrença nas forças partidárias poderão conduzir o país à ingovernabilidade.
Livremo-nos pois de 2014, mas olhemos para 2015 cientes, como Cavaco Silva, que a "esperança não se proclama com meras palavras".