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1. Os sinais são ténues. Mas é possível vislumbrar uma saída para a guerra. Um deles chega do presidente da Ucrânia. Que vai repetindo, uma e outra vez, que não lhe parece possível que o seu país venha a aderir à NATO. Recorde-se que essa é uma das condições do cabo de guerra que governa a Rússia. Outros sinais chegam do agressor. Que outra coisa é, senão sinal de fraqueza, bombardear prédios de habitação? Que outra coisa é, senão sinal de desespero, contratar combatentes sírios experimentados nos crimes da guerra urbana? É um paradoxo, mas talvez se venha a perceber (esperemos que mais cedo do que tarde) que, ao dar rédea solta a todos os seus cães de guerra (incluindo os famigerados combatentes chechenos), a Rússia esteja apenas a mostrar que o exército mais poderoso da Europa não tem força para quebrar a resistência do povo ucraniano.
2. Enquanto a guerra prossegue, os portugueses também vão pagando um preço. Mais baixo do que o dos ucranianos (que pagam com a vida e com o exílio forçado de três milhões de mulheres e crianças), mas ainda assim um preço. A fatura mais imediata para o cidadão comum é a dos combustíveis. E se calhar sem surpresa é por aqui que se revelam os primeiros sinais de egoísmo corporativista. Primeiro a Fenprof (professores), depois o Sinapol (polícias), lá vieram exigir ao Estado um subsídio que ajude a pagar o gasóleo dos seus carros particulares. Como se fossem os únicos que trabalham longe de casa. Como se os enfermeiros, marceneiros, empregados da banca, auxiliares das escolas, delegados de propaganda médica, operários do têxtil e da construção civil, não tivessem exatamente o mesmo problema. É um facto que as medidas do Governo já em vigor apenas atenuam a subida dos preços. E é defensável que o Governo tome medidas mais robustas (sem nos esquecermos que é o contribuinte que paga). Quando e se o fizer, no entanto, terá de ser para todos. Não apenas para as corporações que já se põem em bicos dos pés.
*Diretor-adjunto