Corpo do artigo
São muitos os sinais que vamos recebendo de situações diversas, com muito frenesim, confusão e contradição à mistura, provocando sentimentos estranhos em quem tenta seguir com alguma atenção o que acontece e, sobretudo, o seu impacto num futuro que teremos de partilhar.
É o extremar de posições sobre a legalização das plataformas de transporte, com a oposição óbvia da classe dos táxis e suas organizações. Tenho pela esmagadora maioria dos operadores de táxi respeito e simpatia, pese também me incluir nos que pontualmente tiveram razão de queixa grave sobre este meio de transporte. Todos os que já se deslocaram a Lisboa de avião aprenderam muito rápido a ter que apanhar o táxi na zona das partidas, evitando a má educação dos taxistas das chegadas, marcada pela prepotência de quem achava sempre que lhe tínhamos estragado o dia. Mas prefiro reter todas as outras situações em que fui sempre servido com simpatia e educação. Tive mesmo o privilégio de conhecer um pouco melhor a classe quando fui responsável pela implementação do projeto "táxi seguro" na Área Metropolitana do porto, percebendo muitos dos seus problemas e dificuldades num trabalho sistemático, muitas vezes duro e nem sempre compreendido. Sendo importante o avanço da modernidade do serviço representado pelas plataformas, deixem-me dizer que não alinho na demagogia das muitas e novas oportunidades de criação de emprego e valor que as mesmas representam. Pasmo quando ouço na televisão o secretário de Estado afirmar que todas as formas de relação contratual são legítimas, que os recibos verdes dos motoristas das viaturas das plataformas são uma forma de profissão liberal como qualquer outra! Alô, alô, camaradas! Por onde andam? Então agora já acreditam que a liberalização da legislação laboral é a solução para criar emprego? Sendo assim, os operadores de táxi passam a ter razão em exigir o mesmo. Em síntese, sim à regulação das plataformas, mas por favor não brinquem aos falsos liberalismos.
Assusta-me o somatório de pequenos nadas, miríade de promessas e/ou ameaças veladas que se vão soltando, com o desenho do puzzle orçamental entregue a um conjunto de francoatiradores (as) de fiabilidade duvidosa. Porque a juventude e o sorriso cénico do Bloco, em articulação com alguma fogosidade equivalente na gestão parlamentar do Governo, nunca hão de perceber na vida porque é que há gente que foi acumulando riqueza ao longo de uma vida árdua, sem férias em muitos casos, simplesmente por forma de estar e encarar a vida. Resultando daí muitas contas em instituições bancárias que são fruto de uma vida inteira dedicada e um trabalho duro e permanente. E aqui, meus caros (as), é bom que percebam que taxar esta poupança é confisco e devem mesmo ter vergonha.
* PROFESSOR CATEDRÁTICO