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A dúvida sobre a capacidade de Rui Rio se fazer ouvir dentro do Governo terminou ontem. O presidente da Câmara do Porto não se faz apenas ouvir - também foi homem para dar, em público, um ralhete aos que, na sua leitura dos acontecimentos, quiseram aproveitar a trapalhada da Metro do Porto para fragilizar essa sumidade da política nacional que é o ministro da Economia. E o ralhete teve, como agora se vê, consequências: a equipa que liderará a Metro do Porto é a equipa que Rui Rio quis e impôs. Por isso, há que dirigir ao autarca portuense sinceros parabéns pela conquista.
Mais do que isso: é importante registar, para memória futura, que a vitória de Rio foi conseguida com a anuência de"Álvaro Santos Pereira, é certo, mas sobretudo com o beneplácito do primeiro-ministro, que devia estar mortinho por se ver livre desta insana problemática. Mais ainda: por ter sido caucionada por Passos Coelho, a vitória de Rui Rio acentua a dimensão da derrota da Distrital do Porto, de Luís Filipe Menezes e de quem, no Governo, terá alegadamente tentado passar uma maliciosa rasteira ao ministro da Economia, para tentar alcançar outra solução.
O seu a seu dono: Rui Rio, que não é propriamente um apoiante da atual direção do PSD e um empedernido defensor das teses de Pedro Passos Coelho, consegue, no final da contenda, baralhar o que antes parecia claro: o seu raio de ação dentro do partido não"é desprezível. Resta saber porquê.
A resposta não é difícil. A vitória de Rio é diretamente proporcional à fraqueza de Passos. O primeiro-ministro permitiu que a decisão final ficasse nas mãos do presidente da Câmara do Porto e de Álvaro Santos Pereira por duas razões. Primeiro, porque o ministro da Economia está proibido de somar mais sinais de fragilização, sob pena de perder a réstia de autoridade que tem. Por isso, não lhe convinha nada permitir que o ministro fosse ultrapassado pelas estruturas partidárias. Depois, porque Rui Rio tinha prometido barafustar a sério, caso não fosse em frente a sua solução. A ameaça, diga-se em abono da verdade, foi feita com inteligência: o alvo da ira do autarca portuense foi Miguel Relvas, hoje o mais periclitante ministro do Executivo de coligação. Quer dizer: se a coisa não corresse como Rio desejava, vinha aí chumbo grosso sobre o braço-direito de Passos Coelho - tudo o que o primeiro-ministro não precisa, nesta altura.
Há outro motivo para verberar a atuação de Passos Coelho: ele permitiu que a Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública fosse instrumentalizada até à náusea. Quer dizer: matou-a à nascença. O currículo do vogal executivo da Metro foi três vezes analisado, até estar em conformidade. Seria outras tantas, caso fosse necessário. Só não é ridículo e vergonhoso para o presidente da dita, que continua serenamente à espera de novas instruções, em vez de fazer o que as circunstâncias impõem: demitir-se.