As linhas gerais do Orçamento do Estado para 2022 foram ontem apresentadas aos partidos. Embora este fosse um documento conhecido - foi o seu chumbo que levou à queda do Governo e António Costa tivesse garantido, após a conquista de uma maioria absolutíssima, que não prepararia outro -, o Mundo trocou-lhe as voltas, a guerra na Ucrânia obrigou a alguns retoques.
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A partir da apresentação do Orçamento do Estado, prevista para amanhã, ficará claro , mais até do que com o Programa do Governo, o que trará aos portugueses a maioria clara que deram ao Parido Socialista. Oportuno, como quase sempre, Cavaco Silva, o ex-primeiro-ministro que conta no currículo com duas maiorias absolutas, exímio gestor de silêncios, publicou um extenso texto na imprensa a dar a sua solução para o crescimento adiado de Portugal.
Sem qualquer cerimónia, Cavaco classifica Costa , com base nos seis anos de governação, como um primeiro-ministro de fraca coragem, com uma exceção: a legislação laboral, onde não vacilou.
Um perigoso elo entre dois líderes aparentemente tão diferentes. Serão, afinal, mais parecidos do que aparentam? Uma das chaves do professor de Finanças para Portugal alcançar o tão desejado crescimento pode muito bem passar por mais um recuo nas condições laborais. A receita não é sequer inovadora: Cavaco rejeita a rigidez nas leis do trabalho e defende que nunca a regulamentação do mercado de trabalho "impeça as empresas de realizar os ajustes exigidos pelas alterações das condições de mercado". Receita gasta, portanto. Foi isso que vivemos em 2014, quando a troika chegou e impôs os ajustamento exigidos pelos mercados. E quando as condições esboçaram um sorriso aos trabalhadores, fazendo acreditar na recuperação de direitos perdidos, foi a única vez, em seis anos, que nas palavras do antigo presidente da República, António Costa demonstrou coragem política: recusou aos partidos de Esquerda as propostas de recuperação do que havia sido perdido com a revisão do código laboral. Serão, afinal, mais parecidos do que aparentam ser? O tempo não tardará a dar a resposta.
Editora-executiva-adjunta