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Os indicadores claramente positivos de Portugal em termos de crescimento económico, como uma redução do desemprego, um aumento das exportações e um crescimento moderado da riqueza do país depois de dois anos de pandemia, podem estar em causa num futuro ao virar da esquina. Portugal, sempre dependente do espetro internacional, pode ver-se confrontado com a turbulência evidente da inflação alta em muitas das principais economias. A dupla crise da pandemia e da guerra na Ucrânia desencadeou um conjunto de elementos que agora promovem um ciclo de alta dos preços. Os Estados Unidos e a União Europeia, incluindo Portugal, registam taxas de inflação desconhecidas há décadas.
A tentação catastrofista ainda não se justifica, mas seria um grave erro subestimar os riscos atuais. Até que seja reprimida, a escalada inflacionária tenderá a produzir uma erosão do poder de compra que afeta gravemente os mais pobres e com menos defesas, já castigados pelo calvário da crise pandémica. A inevitável série de aumentos de juros por parte dos bancos centrais fará com que as economias abrandem, e isso levará, em alguns casos, a uma fase de recessão. A bola de neve já começou a rolar e tende a ficar maior: prestações da casa sobem, empréstimos de todo o tipo mais caros, menos consumo, as empresas vendem menos e, consequentemente, despedem mais. O Banco Central Europeu está ciente disto tudo, mas a cegueira de controlar a inflação é maior. Mesmo que ela traga recessão, Christine Lagarde vê a escalada da inflação como maior perigo. O cidadão está sempre numa situação de "perde ou perde".
Neste contexto, Portugal até pode passar pela tormenta se continuar a apresentar dados de esperança. A acentuada contração que o PIB sofreu desde o início da pandemia está a ser corrigida nos últimos trimestres, mas será um erro minimizar a tempestade que se vislumbra no horizonte. Porém, estes dados não dissipam o descontentamento de milhões de trabalhadores, que já veem o seu poder de compra consideravelmente corroído num país que não brilha pelos salários que paga.
Editor-executivo